"Fiz essa música falando do cara
que toda mulher gostaria de ter e que todo homem gostaria de ser. E é o
cara que eu tento ser." Foi assim que Roberto Carlos apresentou "Esse
cara sou eu" na primeira vez que cantou o hit da novela "Salve Jorge" ao vivo,
em São Paulo, no início de novembro. Os verbos "gostaria" e "tento"
indicam que ele mesmo sabe que o "cara" da letra, lançada em outubro, é
mais ideal do que real. Este é o gancho para respostas "realistas" de
outros músicos para o hit de Roberto.
Ciúme, insegurança, alcoolismo,
infidelidade e até psicopatia estão entre as características dos
"caras" das novas letras. Duas bandas de pagode da Bahia, O Troco e
Operários do Samba, se destacam entre as releituras que mais chamam
atenção em redes sociais. "Esse cara não existe", da O Troco, tem mais
de 160 mil de cliques no Youtube em dez dias.
"Estava conversando com uma amiga e ela me mostrou uma 'análise psicológica' da letra do Roberto Carlos no Facebook", conta ao G1Mário
Brasil, cantor da O Troco, de Salvador. O texto humorístico,
compartilhado sem autoria creditada em diversos perfis e páginas no
Facebook, indica traços de obsessão, insegurança e possessividade na
letra de "Esse cara sou eu". "Pensei na hora: isso dá uma música",
conta Mário. Ouça "Esse cara não existe", com a banda baiana O Troco.
"Fiz a versão, inspirada na análise
que vi no Facebook, no mesmo dia, uma quarta-feira. Na quinta fiz o
arranjo, na sexta o playback, no sábado gravei a voz e na segunda
coloquei para tocar", conta.
A velocidade do processo tem um
facilitador: a paródia usa exatamente a mesma melodia, em um ritmo de
pagode baiano, e letra parecida, com o acréscimo dos supostos
"distúrbios psicológicos" de cada verso.
Mário, assim como os outros cantores
de versões, se diz fã de Roberto, e abre uma exceção para o "rei": "O
Roberto pode até ser 'o cara'. Mas, tirando ele, 'esse cara' não
existe.". Ele acha que a letra aumenta a expectativa das mulheres em
relação aos seus companheros "A mulher já espera o príncipe encantado,
o Super-homem. E hoje a realidade não é assim", defende o pagodeiro.
Se "Esse cara não existe" foi
inspirada em uma piada de Facebook, "Esse cara sou eu (versão real)",
tocada pela banda de pagode Operários do Samba, de Itabuna (BA), veio
de "criação própria", garantem os músicos. A faixa foi divulgada no dia
17 de novembro no YouTube, atualmente com 50 mil views no YouTube. O
texto da letra está espalhado em diversas redes sociais, sites e até
novos registros no YouTube, todos posteriores à postagem do grupo. Ouça "Esse cara sou eu (versão real)", com os Operários do Samba.
O "cara" da nova letra é alcoólatra,
mulherengo e negligente com a mulher. "Abrimos e fechamos nossos shows
com essa música. Nossa 'galera' toda já sabe cantar, e diz que nem se
lembra mais da letra do Roberto. A versão mais engraçada fica na
cabeça", diz Thiago Santos, vocalista do grupo. A banda surgiu há cinco
meses a partir de roda de pagode de amigos e aumentou o número de shows
com o sucesso da versão. "Registramos a letra como paródia", ressalta
Thiago.
O cantor alagoano Odivar Santos,
brega assumido, optou por caminho mais autoral na sua resposta a "Esse
cara sou eu". Sua música "Eu não sou o kara" tem nova melodia e versos
que fazem apenas menção à letra de Roberto Carlos, sem reproduzir sua
métrica.Ouça "Eu não sou o kara", de Odivar Santos.
"O Roberto Carlos pode tudo. Só que
nem sempre é assim. Às vezes, você dá tudo pra mulher, dá conforto, mas
ela não quer isso - quer pegada, aventura, 'saidinha'. Não quer
compromisso, que você fique ligando toda hora. A mulher independente
quer sentir mais livre", defende Odivar.
Ao contrário dos outros autores de
"respostas", o alagoano acredita que é possível ser "o cara", mas só
para quem tem "muita grana". "Se você não tem 'bala na agulha' como o
Roberto, tem que ser ficante mesmo, pular o muro quando 'o cara' chega.
Mas, no fundo, é com você que a mulher tem prazer. O Roberto gasta toda
a grana dele, dá conforto, mas na hora da pegada, ela gosta é do
amante", provoca Odivar, antes de inverter os papéis da entrevista: "E
você, é o cara ou o amante?". G1