Araci é um município brasileiro do estado da Bahia. Localizado na Mesorregião do Nordeste Baiano e na Microrregião de Serrinha. Sua população estimada em 2013 é de 55.655 habitantes.
Araci foi fundada por José Ferreira de Carvalho, em 1812, e era conhecida como a cidade do Raso, antes da emancipação pertenceu a cidade de Serrinha. Araci fica a aproximadamente 210 quilômetros de Salvador. Sua área territorial é de 1524 km².
A Cidade se originou na sede da Fazenda Raso, onde foi formando-se um povoado em torno de uma capela. A fazenda então localizada no município de Serrinha de onde, mais tarde, foi desmembrada, tornando-se um distrito chamado Nossa Senhora da Conceição do Raso.
O município se desmembrou pelo fato de estar se desenvolvendo na agropecuária e no comércio e podendo sustentar suas despesas. Isso ocorreu em 13 de dezembro de 1890. Em 1904, o município passou a se chamar Araci, mas foi extinto em 1931 após decair em seus trabalhos sustentáveis. A partir da extinção, Araci foi novamente anexada a Serrinha.
Em 14 de novembro de 1956, Araci foi restaurada e elevada à cidade se separando novamente de Serrinha.
Outra versão indica que Araci pertencia ao município da Purificação dos Campos (atual Irará), com o desmembramento da Vila Serrinha com o município da Purificação dos Campos por volta 1876, Araci deixa de pertencer a Irará. Então a Fazenda Raso se localizava em 1890 na Vila Serrinha e não no município Serrinha, pois Serrinha só veio se tornar município em 1891. Assim como Serrinha e Araci, também pertenceram ao município da Purificação dos Campos as atuais cidades; Coité,Teofilândia, Água Fria, Barrocas, Lamarão, Santanópolis Ouriçangas, Pedrâo e Coração de Maria.
Patrimônio histórico e cultural
Após o regresso do Capital José Ferreira de Carvalho e seu restabelecimento na sua fazendA onde seria erguida a Cidade, pois ele havia demandando para Serrinhamotivado por uma grande estiagem, ele iniciou a construção de uma igreja para a qual recebeu oferta de ajuda do então Imperador D. Pedro II mas ele recusou a ajuda, alegando que para melhor servir a Deus, a obra seria concluída sem auxílio de particulares.
HISTÓRIA DE ARACI (período de 1812 a 1956) - Maura Mota Carvalho Lima.
Capítulo I
FUNDAÇÃO DO ANTIGO RASO
FUNDAÇÃO DO ANTIGO RASO
01. O Pioneiro Capitão José Ferreira de Carvalho
Araci foi fundado pelo Capitão
José Ferreira de Carvalho no ano de 1812. Este cidadão residia na Fazenda Serra
Grande, município de Serrinha. Era filho de Manoel Ferreira Santiago
e Maria da Conceição, Tendo nascido no ano de 1783. Era casado com
Maria do Rosário Lima, irmã do padre José Alves. Depois do casamento, foi ele
residir na fazenda Pedrão, de propriedade de seu sogro, no município de
Irará. Tempos depois voltou ele ao lugar denominado Campo Limpo, no município
de Serrinha. Tendo sido, na sua nova residência, convidado a tomar parte na
política serrinhense por alguns chefes da mesma, como não tivesse vocação para
tal, não aceitou o convite, tendo, por essa causa, sofrido grande coação,
resultando daí a sua retirada daquela fazenda, Resolveu então comprar ao Sr.
Paulo Rabelo, residente na então vila de Entre Rios, umas vinte leguas de terra
quadrada.
O Sr. Paulo Rabelo era descendente de Antonio Guedes de Brito, fundador da Casa
da Ponte, vizinha a casa da Torre de Garcia d’Ávila, tendo este último vindo de
Portugal em companhia de Tomé de Sousa, 1º. Governador Geral do Brasil, em
1549. Aquelas vinte léguas de terras era então uma caatinga bruta onde só
existiam animais bravios, como onça, veados etc. mudo então José Ferreira para
a terra recém adquirida, vindo com todos os filhos, em número de nove,
desbravar a selva e cultivar o solo de parte da terra que hoje é conhecida
Araci.
Aqui chegando edificou uma pequena casa no local onde hoje fica o curral junto
ao tanque novo. Pouco meses depois, começou a construção da outra casa, muito
maior que a primeira, a qual é que fica no largo do Sossego, de propriedade de
Domiciano oliveira. Trouxe também em sua companhia grande número de escravos,
que adquirira segundo a lei da época. Para eles edificou também varias
casinhas. Mudou-se para a nova casa construída, pois era maior que a primeira e
mais confortável, entregando a outra a um de seus escravos. Com o auxílio
deste, e sue incansável labor, iniciou um grande e selecionado criatório de
gados de muitas espécies, cujos exemplares trouxera de sua fazenda Campo Limpo.
Alguns anos decorridos depois de estabelecido com grandes propriedades e a
fazenda em desenvolvimento satisfatório, chegou o inesperado. Uma enorme
estiagem assolou toda a região. Houve falta de água e de alimento para os
animais, provavelmente a ausência prolongada de chuvas. O único recurso foi a
saída temporária dos proprietários e seus criatórios. Poderemos muito bem
avaliar os vexames pó que passaram os nossos antecessores naquelas emergências,
quando não havia ainda sido feito o plantio de forrageira, como a palma
cactácea, que tem sido, nos tempos atuais, o arrimo é a salvação das fazendas
de gado em tempo de seca. Não existem também por aqui as cisternas e os poços
artesianos, os quais atualmente são de incomensurável valor para o
abastecimento do precioso líquido nas pequenas estiagens, quer ao povo, quer
aos gados.
Não havendo meios imediatos para remediar aquela situação, voltou o nosso herói
a Serrinha, com toda a família e criatório. Assim que teve notícias das
primeiras chuvas caídas, regressou incontinenti à sua propriedade. Aqui
chegando, continuou a árdua tarefa de colonização dos campos. O lugar em que
edificou as primeiras casas denominou Raso, de acordo com a espécie topográfica
do terreno, isto é, coberta de caatinga baixa e emaranhada. Existiam, no entanto,
em grande parte das vinte léguas de terras por ele adquiridas, muitas matas
espessas, donde se extraiam madeiras de lei em grande quantidade.
Perto de sua residência, construiu três tanques. O primeiro é o chamado
Fontinha, ao sul da dita casa; o segundo foi o que é conhecido por Tanque Novo,
junto do local da primeira casa, ao qual já me referi; e o terceiro foi o que
hoje se chama Tanque da Nação, que era conhecido naquele tampo por Lameiro do
Raso.
02. Base Genealógica da Família de Araci.
Os filhos de José Ferreira eram nove, a saber: Severo Sabino de Carvalho, que se casou com Maria Moreira (Mariquinha). Esta era bisneta do português Frutuoso de Oliveira Maia e de sua mulher, Bernarda Maria da Silva. Estes portugueses foram dos que aportaram à Bahia quando o Brasil era província de Portugal, os quais também Ajudaram na obra de colonização das terras brasileiras. O segundo foi Ludovico Antunes de Carvalho, que se casou com Justina Ferreira, filha de Manoel Ferreira de oliveira, irmão de José Ferreira. Rita Constantina de oliveira foi a terceira filha, e se casou com seu primo Virgínio Eloy de Oliveira, filho de Antonio Ferreira, irmão de José Ferreira. Antônio Carvalho Lima foi à quarta filha. Que se casou com Ângelo Pastor Ferreira, Irmão de Virgílio Eloy Oliveira.
O quarto filho foi o Capitão Ângelo Fabiano de Carvalho, que se casou com Ana
Bernadina Moreira, irmã de Maria Moreira, Mulher de Severo. Francisca Rosa
(Rosa do Tingui) foi a sexta filha, e se casou com Antônio Manoel da Mota,
filho de Manoel Joaquim de Oliveira e Maria Francisca de Jesus, e neto de José
Ferreira de oliveira, tio de José Ferreira de Carvalho. A sétima filha foi
Maria Fidélis, que se casou com José Tomé de Ferreira, filho de Antônio Ferreira
Santiago e Josefa da Mota, esta também filha de Antônio Manoel da Mota. A
oitava filha chamava-se Carlota. Não se casou. O nono foi o Professor Antônio
Martins Ferreira.
Em se tratando da genealogia da principal família de Araci, quero explicar aqui
a razão do direito que me assiste em escrever este livro, ou seja, o
cumprimento de um dever sagrado emanado da dita genealogia. Vejamos: José
Ferreira de Carvalho teve como primogênito Severo. De Severo nasceu Francisco
Aristide. Deste nasceu Francisco Xavier, do qual nasceu Nicolau, que é o meu
genitor. De Ludovico, o segundo filho, nasceu Maria Luiza, da qual Nasceu
Francisco, do qual nasceu Ana, que é minha genitora. De Rita Constantina, a
Terceiras filha, nasceu Maria Rosa, da qual nasceu Nicolau, meu genitor. Da
quarta Filha, Antônia nasceu Maria Silvina, da Qual nasceu Ana, que é minha
genitora. Francisca Rosa foi a sexta filha, da qual nasceu Antônio, do qual
Nasceu Francisco, do qual Nasceu Ana, que é minha genitora.
Maria Fidélis foi a sétima filha, da qual nasceu Maria, da qual nasceu
Francisco Xavier, do qual nasceu Nicolau,que é meu genitor. Em resumo, está
aqui definido que dos nove filhos de José Ferreira de carvalho eu descendo de
seis, eis porque alimento um acendrado amor à terra descoberta por aquele
grande patriarca, e que me foi outorgada como herança bendita.
A tradicional família de Araci tem os seguintes sobrenomes: Ferreira, Carvalho,
Oliveira, Mota, Lima e Moreira, todos eles oriundo dos primeiros cidadãos que
aqui fixaram residência, os quais eram descendentes do fundador, José Ferreira
de Carvalho. Nos sobrenomes acima ditos estão o âmago e a continuidade da
descendência do grande fundador de Araci. O Carvalho é aquela árvore que há 140
anos aqui surgiu, cresceu e espalhou os seus ramos. Nós somos as novas árvores
que nascemos dos frutos daquela. Por este motivo dizemos com santo orgulho: nas
nossas veias corre o sangue de José Ferreira de Carvalho.
03. Construção de Novas Propriedades
No terreno que José Ferreira adquirira com o Sr. Paulo Rabelo encontrou aquele,
em certo local, onde hoje está situada a aldeia denominada Rufino, uns antigos
moradores que, em nenhuma prova de propriedade, ali residiam havia vários anos.
Indo ele reclamar aos tais o direito de que era possuidor, encontrou da parte
dos mesmos forte resistência. Não se intimidou nem recorreu à justiça. Com sua
intrepidez e coragem enfrentou obstinadamente os intrusos a ponto de ser
alvejado por um tiro, mas terminou vencendo.
No citado lugar não havia naquele tempo nome algum. Alguns anos mais tarde,
segundo a tradição, um dos seus escravos, de nome Rufino, estando a caçar no
dia de domingo, foi sair em uma lagoa até então desconhecida, próxima ao lugar
em que foram expulso os citados moradores. Ao voltar, comunicou a seu senhor o
achado, e este, por ser um homem consciencioso, disse ao escravo que a dita
lagoa ficaria batizada com o nome de lagoa do Rufino, em pagamento da
descoberta, nome este pelo qual ainda hoje é conhecida a aldeia que surgiu
depois. Na lagoa foi construído um grande tanque, o qual é de utilidade pública
a todos os moradores da atual aldeia do Rufino.
Perto do lameiro do Raso, o Cap.José Ferreira de carvalho edificou outra casa
muito grande, que mais tarde ofereceu a seu filho Ludovico Antunes de Carvalho.
A dita casa fica na extremidade sul da Rua Barão de Geremoabo, que, depois de
pertencer a vários donos, foi dividida em duas, pertencendo atualmente uma
parte a Filipe das Abóboras, e a outra, a Caboclo do Morro. Foi ela a segunda
grande casa edificada nesta terra.
José Ferreira tinha por lema colonizar terras, abrir estradas, construir
propriedades. Junto ao lameiro do Raso existia também um curral de cabras, e
vários casebres para escravos. De vez em quando chegavam ao Recôncavo alguns
caboclos, aos quais José Ferreira dava trabalho e guarida nas suas terras, indo
com isso aumentando o número de moradores. Em 1840, fundou a fazenda denominada
Poço das Madeiras, junto ao riacho Tocós, fazenda que deu de dote à sua filha,
Rita Constantina de Oliveira.
Naquele tempo, usava-se festejar a elevação das cumeeiras dos edifícios de
propriedades de abastados. O programa era o seguinte: quando o dono da casa em
construção tinha que lavar a peça de madeira ao local da cumeeira, convidava
com antecedência grande número de amigos e parentes. Uma vez reunidos, uma
senhora entre os convidados rematava a licença de hastear a bandeira na ocasião
em que a dita peça de madeira atingisse o lugar designado. A bandeira era
confeccionada de fazenda da melhor qualidade e adornada por todas as jóias
pertencente à família do proprietário da casa, e subia juntamente com a peça de
madeira onde ficava a tremular durante o dia todo. Subiam ao mesmo tempo
girândolas de foguetes, batiam-se palmas e davam-se vivas, seguindo-se, após,
um lauto banquete, oferecido aos convivas pelo dono da casa. Foi assim que se
fez a festa da fazenda “Poço das Madeiras”.
Rita recebeu de seu pai a dita fazenda, que foi edificada em uma elevação
aprazível donde se descortina um belo panorama. Plantou e cultivou um magnífico
jardim de muitas qualidades de flores. Plantou um extenso pomar de grande
variedade de frutas, com resultados surpreendentes. Era tal a produção que sua
família se utilizava e ainda exportava para lugares vizinhos. O mel, o leite,
existia ali com fartura. Tudo ali era uma nova Canaã. Essa fazenda pertence
atualmente a Paulo da Conversão Ferreira, filho de Rita.
Próximo à fazenda Poço das Madeiras José Ferreira edificou uma outra, que deu a
sua filha Antônia, casada com Ângelo Pastor Ferreira. Esta nova fazenda ele
denominou Camamu. Sobra a origem deste nome explicava ele o seguinte: conhecia
a cidade Camamu no sul da Bahia, e como as terras desta eram iguais às da nova
fazenda, propícias à lavoura de mandioca, resolveu dar-lhe o mesmo nome.
Começou ali o cultivo de mandioca, com resultados satisfatórios. Esta fazenda
pertenceu, tempos mais tarde, a João Pastor de Oliveira, filho de Antônia e
hoje é de propriedade de Reginaldo de Araújo, de Pedras.
Severo Fabiano de Carvalho edificou a casa da fazenda Mulungu, estabelecendo-se
na mesma com sua família. Essa fazenda era localizada ao norte do então Raso
onde ainda existe hoje o novo Mulungu, de propriedade da viúva de Francisco
Ferreira da Mota (meu avô). A casa antiga foi demolida, tendo sido construída,
próximo ao local da mesma, uma outra, que depois foi também derrubada, tendo
sido feita uma terceira, o atual Mulungu.
José Ferreira edificou também a fazenda Tingui, a qual deu à sua filha
Francisca Rosa. Era ela casada com Antônio Manoel da Mota e residia na fazenda
Serra Grande, em Serrinha. Com a morte de seu esposo, José Ferreira foi
busca-la para morar em sua companhia, estando o mesmo morando naquela época, na
dita fazenda Tingui, a qual passou para a filha e com ela ficou até a morte.
A casa que ele edificara no lugar denominado Raso, ou seja, a segunda casa aqui
construída, deu á sua filha Maria Fidélis, mulher de José Tomé. De Maria
Fidélis herdou-a sua filha Maria Lídia, que e casada com o Cel. José Roque de
Oliveira, filho de Ângelo Pastor, Atualmente a mesma pertence a Domiciano
Oliveira.
Depois das primeiras propriedades rurais forma surgindo outras, as quais
pertenceram e pertencem aos descendentes de José Ferreira, que continuaram a
obra patriota e dinâmica da desbravação dos campos e colonização dos campos e
colonização das terras. Aqui, ali e acolá foram surgindo roças, sítios,
fazendas e povoados. Entre outras, foram edificadas as seguintes: Fazenda
Laranjeira, pelo Cel. Antônio Ferreira Mota, filho de Francisca Rosa, de cuja
fazenda originou-lhe o cognome Coronel Laranjeira, que também ficou conhecido
por João do Caldeirão; Fazenda Deserto, por Francisco Aristides de Carvalho,
filho de Severo Fabiano de Carvalho, o qual era conhecido por Francisco do
Deserto; Fazenda Recreio, pelo Cel. Vicente Ferreira da Silva, casado com
Virgínia, filha de Rita Constantina, das Madeira; Fazenda Terra Vermelha,
por Amerino de Oliveira Lima, Filho de Rita Constantina; Queimada Redonda, por
José Ferreira de Carvalho Neto, filho de Rita Constatina, o qual era conhecido
por Zuza; e Sítio, por Ângelo Pastor Ferreira, casado com Antônia Ferreira,
filha de José Ferreira de Carvalho.
Depois destas fazendas foram surgindo inúmeras outras. As quais não registro
neste livro por ser inteiramente impossível. O Caldeirão, por exemplo, hoje é
uma aldeia de mais de cinqüenta propriedades rurais, todas elas pertencem aos
descendentes de José Ferreira de Carvalho.
04. Outras Realizações
José Ferreira continuou sua
obra iniciada. Trazia no sobrenome o Carvalho, essa árvore da família das fagáceas.
Forte possante e de grande utilidade, vencedora da idade e das procelas. Tal
qual o Carvalho, na sua forca e valor era aquele que tinha por sobrenome.
Progressista e patriótico, preocupava-se bastante com tudo o que viesse
beneficiar aos seus e à terra onde habitava. Explorava por toda a parte as
riquezas naturais do solo e erigia novas propriedades. Pela sua honradez e
caráter postos a prova por tão abnegado esforço, foi ele designado pelo então
Governador da Província da Bahia empreiteiro de uma estrada que partia da
cidade de Alagoinhas e ia até Monte Santo, tarefa esta que aceitou e que deu
conta. Este foi um dos muitos atos heróicos do intrépido desbravador de terras,
dadas as dificuldades existentes naquela época, quando os meios de transportes
nas regiões sertanejas eram apenas o lombo de burros e a planta dos pés. Mas
para quem tem força de vontade e ânimo para a luta tudo é possível. Era esta a
sua bandeira.
Capítulo
II
VIDA RELIGIOSA DE ARACI ATRAVÉS DOS TEMPOS
01. A Fé Cristã do fundador
VIDA RELIGIOSA DE ARACI ATRAVÉS DOS TEMPOS
01. A Fé Cristã do fundador
Tal qual
o nosso Brasil Amado, o nosso Araci (antigo Raso) nasceu à sombra da cruz. O
seu fundador, dotado de fé robusta e imbatível, assim que se instalou nesta
terra procurou, mesmo com sacrifício, fazer celebrar de vez em quando o santo
sacrifício da missa, cujo ato era ministrado por sacerdotes previamente
convidados.
Segundo narrativa de Paulo da
Conversão Ferreira, filho de Rita Constantina e atual proprietário da fazenda
Poço das Madeiras, alcançou, no seu tempo de menino, aquela fazenda conhecida
por ”Igreja do Raso”. Sua mãe, então, explicava-lhe a origem deste nome. Era o
seguinte: Quando o então Raso não tinha igreja, seu pai, José Ferreira,
convidava os padres das freguesias vizinhas para celebrar aqui a santa missa.
Era ali na fazenda Madeiras o ponto escolhido para o aludido ato, fato este que
se repetiu até a construção da igreja. Assim que o Raso passou de simples
fazenda a povoado, foi o mesmo anexado à freguesia e município de Tucano,
passando então a pertencer, política e espiritualmente, àquele Município. Desta
forma o então vigário, Dr. Antônio Rocha Viana, de tucano, passou a exercer as
funções de cura da aldeia, o qual vinha celebrar, na dita fazenda, os atos
litúrgicos, celebrando também casamentos e batizados. Convergiam para ali,
naqueles dias, os habitantes de todo o Raso e até pessoas de vários lugares
vizinhos, como Brejo do tracupá, João Vieira et
02. Construção da igreja Matriz
Quando o Raso começou a
desenvolver-se no seu sistema urbano, os seus filhos, tendo à frente o bravo
José Ferreira de Carvalho, começaram a cogitar da construção de sua igreja. Era
apenas uma localidade de trinta casas quando foi iniciada a obra da matriz no
local onde ainda hoje se encontra, a qual conserva também a sua forma e tamanho
primitivo.
Naquele tempo o Brasil já era
independente, sendo então imperador o grande monarca D. Pedro II. O imperador
costumava oferecer auxílios pecuniários a obras pias, mesmo sem ser solicitado,
pois era dotado de bom coração e grandes qualidades cívicas e religiosas.
Sabedor da construção da igreja no Raso, comunicou a José Ferreira que
pretendia enviar-lhe um óbulo para as obras da mesma. José Ferreira mui
respeitosamente agradeceu a oferta, porém, recusou-se a aceita-la, alegando que
queria, para melhor servir a Deus, levar a cabo aquela empresa sem auxílio de
particulares, mas somente com seus esforços e os de sua família, a qual já era
composta de grande número de pessoas. Desta forma, José Ferreira provou, mais
uma vez, o valor e tamanho de sua fé, deixando à sua posterioridade o magnífico
exemplo de amor a Deus.
Todos os seus filhos eram
artistas: uns pedreiros; outros carpinteiros; alguns, ferreiros; e até
pintores. Com o auxilio físico e financeiro destes e dos genros e netos,
iniciaram os trabalhos da igreja. Para melhor acabamento da obra, contratou na
cidade de Simões Dias, estado de Sergipe, um dos melhores pedreiros dali, o
qual se chamava João Mendengue. Este pedreiro havia construído, anos atrás, a
igreja daquela cidade. Trouxe o modelo da mesma pelo qual também fez a daqui,
sem faltar nenhum detalhe.
Ao terminar os trabalhos da
igreja, foi o mesmo pedreiro encarregado de construir o cemitério. Este
cemitério, que foi o primeiro a ser construído, é o que atualmente é conhecido
por cemitério velho e fica à margem da estrada que vai para a serra do Bomfim.
Minha avó, Maria Rosa,
contava-nos que ouvia de sua mãe, Rita Constantina, que no tempo em que a
igreja foi construída, as moças juntavam-se nos domingos, em grupos, e iam
buscar pedras na ladeira do monte do Cruzeiro, pedra esta destinada a obra da
igreja. Tomava aquilo como uma obrigação e, ao cabo de alguns meses,
conseguiram transportar grande quantidade. As ditas pedras eram carregadas
sobre as cabeças das referidas moças. Os homens seguiram o exemplo e assim,
além da contribuição financeira, prestavam também auxílios físicos.
Quando os trabalhos da igreja
estavam prestes a serem concluídos, José Ferreira mandou buscar em Portugal uma
imagem da Imaculada Conceição. Esta imagem veio com duas outras, sendo uma
destinada à igreja da Conceição da Praia, da capital da Bahia, e a outra, para
a igreja de Soure.
Naquele tempo, os trilhos da
estrada de ferro, hoje conhecida por Leste Brasileiro, só vinham até
Alagoinhas. Dali para cá tudo era transportado em carro de bois e lombo de
burro. Por este motivo, a imagem de Nossa Senhora, que veio a trem de Salvador
a Alagoinhas, foi trazida dali para cá em carro de bois.
Assim que o carro alcançou a
curva da Malhada Alta, o povo que já o aguardava na estrada, acompanhou-o
entoando louvores à excelsa Mãe de Deus. Ao aproximar-se da localidade, o dito
carro foi todo enfeitado de flores naturais que lhes trazia todo o povo em
homenagem a Virgem Maria. Ao entrar na rua, grande multidão, tendo à frente o
padre Dr. Antônio Rocha Viana, delirou de contentamento, erguendo vivas a Deus,
a Santíssima Virgem e ao Santo Padre. Subiam fogos para o ar, que se misturavam
aos sons dos vivas e dos hinos sacros. Foi uma verdadeira apoteose. Naqueles
tempos ditosos, os homens eram verdadeiramente amantes de Deus e observadores
intransigentes dos sagrados preceitos da sua doutrina.
A imagem aqui chegou às 9 horas
do dia 8 de dezembro do ano de 1859, seguindo diretamente para a igreja e ali
foi benta juntamente com a igreja, naquele mesmo dia. Logo após, o Pe. Rocha
Viana iniciou a primeira missa celebrada na nova igreja. À tarde houve também a
primeira procissão com a imagem recém-chegada, após a qual houve a benção do
Santíssimo Sacramento. Naquela Mesma hora, José Ferreira pediu ao padre que
proclamasse Nossa Senhora da Conceição a padroeira do raso, o qual foi feito
imediatamente. O cemitério também foi bento no mesmo dia.
Meditamos agora os sacrifícios
que fizeram e os obstáculos que enfrentaram os nossos antepassados para erigir
aquela casa dedicada ao culto da religião cristã quanto tudo era dificultoso
par ser transportado. Avaliemos como teria demorado a viagem da imagem de Nossa
Senhora desde sua partida de Portugal à sua chegada aqui.
Para termos uma pequena idéia do
heroísmo cristão e patriótico de José Ferreira e seus descendentes naquele
tempo, basta fazermos a seguinte comparação: um lugarejo como João Vieira, por
exemplo, já possui, salvo engano, umas sessenta casas, e a sua igreja é uma
capela de pequenas dimensões, que talvez não comporte cem pessoas, com a
agravante da facilidade existente nos dias atuais para aquisições e transporte
de tudo. No antigo Raso, de apenas trinta habitações na zona urbana, foi
edificada esta mesma igreja que Araci hoje possui, quando já tem cerca de 400
casas.
José Ferreira de Carvalho foi o
tipo de herói anônimo dos sertões desconhecidos e desprezados pelos poderes
públicos. Tudo que ele deixou à sua posterioridade foi o fruto de esforços
abnegado e rudes labores. A despeito da inclemência climática peculiares a esta
região, empreendeu toda sorte de iniciativas visando o progresso material e
espiritual da mesma.
A nova igreja ficou sob a
autoridade do Pe. Dr. Antônio Rocha Viana que, sendo vigário da freguesia de
tucano, vinha todos os meses celebrar a missa aqui.
Todos os domingos quando não
havia, os habitantes do então Raso se reunia na igreja à hora de ser celebrada
a missa, isto é, às 10 horas da manhã, e ali cantavam o rosário e a ladainha de
Nossa Senhora. Era esse um salutar costume que muito contribuía para que os
mesmos recebessem de Deus as mais infinitas bênçãos. É este o apanágio dos que
reconhecem os seus deveres para com o seu criador. É na oração que encontramos
o bálsamo para as nossas dores e a resignação para carregarmos a nossa cruz. Um
dia disse Jesus a seus discípulos: “Vigiai e orai para não cairdes em tentação”
(Mat. 26, 41).
A primeira pessoa batizada na
igreja após a benção da mesma foi Idalina, filha de Maria Fidélis e José Tomé.
O Pe. Rocha Viana continuou seu
apostolado no novo tempo surgido do seio das caatingas. Viajava para aqui a
cavalo pela estrada que fora aberto por José Ferreira anjos antes até Monte
Santo. A dita estrada já havia sido ligada a outras que seguiam vários rumos
03. Criação da Freguesia de Nossa Senhora da
Conceição do Raso
No dia 12 de abril de 1877 a foi
elevada a freguesia. O primeiro padre que se instalou na mesma foi o Pe.
Alexandre.
Naquele mesmo ano foi adquirido
por Vigário Eloy de Oliveira, e oferecida Igreja, a imagem de Nossa Senhora das
Dores. Esta imagem é uma das raras prendas doadas pelos nossos antepassados à
dedicação e veneração dos fiéis cristãos da nossa terra. Está colocada em um
nicho que foi oferecido por Maria Lídia, filha de Maria Fidélis, ao lado
esquerdo do altar mor. O seu altar foi também oferecido pela a mesma Maria
Lídia.
O segundo vigário da freguesia de
Nossa Senhora da Conceição do Raso foi o Pe. Francisco, de Ouriçangas, qual era
conhecido por padre Chico. Foi ele construtor e propietário da casa que, mais
tarde vendeu a Amerino de Oliveira Lima, filho de Virginio Eloy de Oliveira
(Virginio das Madeiras). A dita casa passou, depois, a pertencer a José
Oliveira Lima, filho de Amerino, e à sua irmã, Maria Natividade Lima (Tivinha),
Tendo esta vendido sua parte ao dito irmão que, anos depois, derrubou-a e
edificou no mesmo local uma outra, onde reside comigo, sua mulher, e com mais
duas filhas adotivas.
O Pe. Chico possuía também a
fazenda denominada “Algodões”, ao norte do Raso, distando quatro quilômetros.
Quando vendeu a casa a Amerino, mudou-se para a dita fazenda, por se achar com
a saúde abalada. Mais tarde veio a falecer. O seu corpo foi sepultado dentro da
igreja, a qual se tornou mais preciosa depois de encerrar no seu subsolo os
despojos de um seu ministro.
No Ano de 1866, foi Deus servido
de chamar à sua glória o nosso valoroso fundador, José Ferreira de Carvalho.
Contava ele a idade de 83 anos quando rendeu o espírito ao senhor, depois de
haver cumprido na terra sua missão, depois de haver amado e servido a Deus e
fazê-lo conhecido e amado pelos que lhe pertenciam, deixando a um exemplo de
uma vida dedicada ao serviço do bem, da verdade e da justiça. “A vossos fiéis
servos, Senhor, a vida não é arrebatada, mas somente muda, e desfeita esta
morada terrestre, adquirem uma eterna morada no céus” (do Prefácio da missa pelos
defuntos). Por isso vos rogo, Senhor, que vos digneis conceder à alma do vosso
servo José Ferreira de Carvalho, que me precedeu com o sinal da Fé, o descanso
eterno.
O corpo de José Ferreira, como o
de sua mulher, Maria do Rosário, que falecera antes, foram ambos sepultados
dentro da igreja.
O terceiro vigário da freguesia
do Raso foi o Pe. Antônio Reis, que sucedeu ao Pe. Chico. Anos mais tarde foi
substituído pelo Pe. Urbano Ferreira, filho do professor Antônio Martins
Ferreira, e neto de José Ferreira de Carvalho.
Antônio Martins foi o nano filho
de José Ferreira. Esteve alguns anos cursando em um seminário. Faltando-lhes,
depois, a vocação sacerdotal, deixou o mesmo e formou-se em professor.
Maistarde casou-se e teve dois filhos, os quais foram José Loreto e Urbano.
Este dois filhos do Professor Antônio Martins foram também para o seminário e
conseguiram receber a ordenação sacerdotal. Seu pai, então, em palestra com os
amigos, diziam o seguinte: fui ao seminário e deixei, por faltar-me a vocação,
porém foi melhor, pois se tivesse chegado a ser padre seria um só, e assim
ordenei meus filhos, e são dois para o serviço do altar de Deus.
Por aquele tempo a nossa
freguesia, tão pequena ainda, com reduzido número de habitantes, já possuía
como vigário um dos seus filhos. Quão feliz se sentia aquele povo, tendo como
pastor espiritual um seu conterrâneo. Daquele mesmo rebanho sairia um pastor
que conduzia ao aprisco. Nosso Senhor abençoou a José Ferreira e sua
posterioridade qual a um novo Abraão. Assim como de Abraão descendeu Leví, cujo
filhos foram escolhidos para as funções da Arca Santa, de José Ferreira
descenderam os dois filhos de Antônio Martins, que foram também operário da
divina messe.
O quinto vigário foi o Pe.
Benvenuto, que sucedeu o Pe. Urbano, pelo o ano de 1882. Depois do padre
benventura assumiu a direção da freguesia o Pe. João Tourges (francês), que
aqui esteve até o ano de 1888.
Ao Pe. João Torgues sucedeu o Pe.
Júlio Fiorentini, o qual tomou posse em novembro de 1888.
No ano de 1889, quando o vigário
da freguesia do Raso o dito Pe. Júlio Fiorentini houve nesta região uma grande
seca. Não havia poços nativos ou perfurados. O povo ia buscar água no bebedouro
da fazenda Quererá, a 18 quilômetros de distancia, e no riacho do Barreiro, a
12 quilômetros. Não existia outro recurso para obterem o precioso líquido. Era
já o fim do ano, véspera da festa da Imaculada Conceição. O povo que residia na
zona rural, e nos lugares vizinhos, estavam com vontade de vir assistir à
tradicional festividade em honrar de Maria Santíssima. Temia, no entanto, a
sede que haveria de passar. Que fez o virtuoso vigário? – Arranjou grande
quantidade de animais com acarotes e latas e mandou buscar água nos lugares
acima ditos, enchendo muitas talhas grandes, as quais colocou na igreja, com o
fim de mitigar a sede dos que viessem de longe de longe para a festa. Enviou
cartas e recados a todos paroquianos que habitavam fora da sede para que
viessem, pois lhe daria de beber. resultado: houve a festa com grande assistência:
ninguém faltou ao apelo do zeloso sacerdote de Cristo. No dia seguinte, isto é,
a 9 de dezembro daquele ano, as chuvas chegaram com abundância, enchendo
tanques e transbordando rios. Eis o pago que Deus sempre dá a todos os que
ouvem a voz dos seus ministros. Este caso ficou guardado para sempre na
história da vida religiosa de Araci.
O Pe. Júlio Fiorentini era
italiano. Foi ele um dos componentes da campanha que levaram a efeito, no ano
de 1890, em prol da emancipação política do então freguesia do Raso. Foi ele um
dos que chefiaram o movimento libertador. Pelo fato de ser grande amigo do
Conselheiro Cícero Dantas (Barão de Gaermoabo), muito contribuiu junto ao mesmo
para a vitória daquela causa.
Em março de 1891, o Pe. Júlio foi
transferido desta para outra freguesia. Naquela época, o então Raso já tinha
recebido a carta foral, sendo intendente municipal o Cel. Vicente Ferreira da
Silva, genro de Virgínio Eloy de Oliveira. O dito intendente, atendendo aos
apelos que lhe fizeram aos paroquianos da freguesia do Raso, enviou a Câmara
Eclesiástica da Bahia um abaixo assinado solicitando do Sr. Bispo de então, D.
Manoel, a vinda de outro padre, para o preenchimento da vaga deixada pelo Pe.
Júlio. Conforme documento por mim adquirido, o Sr. Intendente recebeu a
seguinte resposta do Palácio Arquiespiscopal:
Palácio
Arquisespiscopal da Bahia, 16 de junho de 1891
Ilm.° Sr.
Intendente,
Em resposta ao pedido de V. S.ª que a freguesia, vaga pela demissão do
respectivo Vigário Padre Júlio Fiorentini, já foi entregue à solicitude e zelo
do Pároco de Serrinha, até ulterior resolução.
Deus
guarde a V. S.ª
+ Manoel, Bispo da Eucarpia
Vigário Capitular
Ilm.º Sr.
Vicente da Silva, Intendente da Câmara Municipal da Vila do Raso.
O vigário de Serrinha, a quem ficou temporariamente confiada a freguesia do
Raso, era naquele tempo o Pe. Francisco Alvarico.
No ano de 1893, tomou posse da freguesia o Rvmº.
Pe. Emílio Pereira de Miranda, ficou a frente da mesma ate o ano de 1898. A 22
de março do ano de 1896, o Pe. Emílio Pereira de Miranda foi eleito conselheiro
municipal da vila do Raso. Foi ele também quem ergueu a capela do monte do
Cruzeiro, que denominou capela do Senhor do Bonfim. Em 1899, foi o Pe. Emílio
transferido para outra freguesia, ficando a freguesia do Raso novamente sob os
cuidado do pároco de Serrinha. Cujo nome não consigo encontrar.
No ano de 1904, o então intendente municipal, Antônio de Oliveira Mota, Filho
do Cel. Antônio Ferreira da Mota, fez um apelo aos poderes eclesiásticos no
sentido de ser enviado um padre para preencher a vaga existente na freguesia
desde o ano de 1899. Convidara de ante-mão o padre João Pedro Torgues, o
mesmo que já havia estado à frente da mesma até o ano de 1888, de quem era
muito amigo. O dito apelo foi atendido, sendo nomeado o Pe. João Pedro Torgues.
Que também era conhecido por Pe. João Torgues, que tomou posse da freguesia do
Raso no mês de abril do ano de 1904.
No ano de 1907, Pe. Torgues, idealizou uma viagem para à terra santa
(Jerusalém) dizendo, ao sair, que ao regressar viria novamente reassumir a
direção da freguesia. Aconteceu que, sendo doente do estômago, não suportou a
travessia da longa viagem marítima, falecendo antes de chegar ao destino. O Sr.
Intendente, ao tomar conhecimento do infausto acontecimento, teve um grande
abalo, pois era intimo amigo daquele virtuoso sacerdote, tendo até adoecido.
Todos paroquiano choravam com pesar a morte do seu
pastor.
Sucedeu ao Pe.
Torgues o Pe. Francisco Batista. Sob sua inspiração foi fundada, na paróquia de
Nossa Senhora da Conceição de Jesus. Conforme se vê em nossa matriz, num quadro
suspenso à parede, no lateral direito, a dita associação foi fundada e
instalada a 4 de abril do ano de1913. Depois de organizar a associação, o mesmo
padre tratou de angariar donativos entre os fiéis para a aquisição da imagem do
sagrado coração de Jesus, a qual foi logo mais adquirida na capital baiana.
Esta colocada atualmente no altar mor, à direita da imagem da Imaculada
Conceição. É dito por todos que a têm observado ser uma das imagens mais
perfeitas de que se tem conhecimento.
Foi o mesmo padre que, usando das suas atribuições, angariou donativos com os
quais adquiriu a imagem do Senhor Morto a fim de celebrarem-se as solenidades
da Semana Santa, visto já haver na nossa igreja a imagem da Virgem Dolorosa. O
povo, sempre fiel às tradições de sua terra e ao cumprimento dos deveres religiosos,
não mediu sacrifícios. Assim é que, em poucos meses, foi coletada uma quantia
de dinheiro suficiente para a aquisição da dita imagem. É ela também uma obra
prima de escultura, quer na perfeição das formas físicas, quer na localização
das santas chagas. Ao fitá-la tem-se a impressão de estar-se diante do corpo de
Jesus na sua própria estrutura. A dita imagem, assim que chegou, foi colocada
em um móvel que tem a forma de um berço graúdo equipado com tampa móvel. Existe
ainda um esquife próprio para ser colocada a imagem quando tem de sair em
procissão do enterro simbólico, nas sextas-feiras da paixão. Procede ao mesmo,
em um andor, a imagem da Mater Dolorosa que, a exemplo do que foi feito no dia
da morte de Jesus, acompanhou com outras santas mulheres o enterro de seu
divino filho. A dita imagem conserva-se intacta, sem nunca haver levado, até
hoje, conserto algum. É ela uma das grandes dádivas que nos legaram nossos
antepassados. É o atestado fiel da religiosidade daquele povo bom e ordeiro.
Desde a chegada a esta terra, ficou sob os cuidados de Da. Francisca Lopes Mota
(Da. Xixi), viúva de Antônio de Oliveira Mota, ex-intendente de Araci, e de Da.
Maria Lídia Oliveira, esposa do Cel. José Roque de Oliveira. Atualmente, a
imagem está guardada sob o altar de Nossa Senhora das Dores, o qual possui à
frente duas portas.
No fim do ano de 1913, o Pe. Francisco Batista foi substituído pelo então
neo-sacerdote Carlos Olímpio Silvio Ribeiro. Era este natural de Serrinha,
filho de Joaquim Ribeiro, veterano da guerra do Paraguai. Antes, porém, que o
Pe. Carlos assumisse a direção da freguesia, esteve aqui por alguns dias, em
caráter interino, o Pe. Mário Vieira. Também os padres Evaristo, José Álvares
Casaes e João Porfírio, vigário de Serrinha, que vinham celebrar aqui a santa
missa enquanto não chegava o respectivo titular da Paróquia.
O Pe. Carlos depois de assumir a direção da paróquia, também passou poucos
meses, sendo substituído no ano de 1914 pelo Pe. Antônio de Campos Nogueira, o
qual era conhecido por Pe. Antônio de Campos Nogueira, o qual era conhecido por
Pe. Nogueira. Em 1916 (ano do meu aniversário), recebi o batismo por intermédio
do Pe. Nogueira. O Pe. Nogueira fixou residência aqui, tendo comprado até
propriedades rurais. Possuiu um grade pasto de capim, o qual denominou de Bom
Retirio. Ficava este à margem esquerda da estrada que vai de Araci a Santa
Luzia. Anos depois, o aludido pasto foi vendido ao meu pai, Nicola de Lyra
Carvalho, ficando então conhecido por pasto do Padre.
Depois de morar, aqui durante treze anos, o Pe. Campos mudou-se para Beritinga,
no ano de 1927, continuando, no entanto, a dirigir a freguesia de Araci até o
ano de 1930. Em 1930 foi transferido para Ouriçangas, passando a nossa
freguesia a ficar soube os cuidados do vigário de Serrinha, o então Pe. Mário
Carvalho. Messes depois, o Pe. Mário foi substituído, em Serrinha, pelo Pe.
Francisco Tanajura, o qual continuou sendo cura da Freguesia de Araci eté
fevereiro de 1932, quando foi transferido de Serrinha. Em março de 1932, tomou
posse da freguesia de Serrinha o Pe. Carlos Olímpio S. Ribeiro, o mesmo que, em
1913, esteve aqui à frente da paróquia de Nossa Senhora da Conceição.
A 19 de abril de 1932, faleceu repentinamente o ex-intendente municipal de
Araci, por duas vezes, e ex-conselheiro municipal, Vicente Ferreira da Silva.
Foi naquele dia chamado o Pe. Carlos a vir celebrar os funerais do extinto. Sua
posse, porém, como cura da freguesia de Araci, foi em 4 de maio de 1932, quando
aqui celebrou a santa missa pela primeira vez, na então nova gestão. Ficou
então exercendo o dito mister até o ano de 1952.
A última vez que aqui celebrou foi a 19 de abril de 1952, uma missa em sufrágio
da alma do mesmo Vicente Ferreira da Silva. Já estava ele completamente
aniquilado por uma enfermidade que o atormentava desde o ano de 1946. Foi para
a igreja conduzido nos braços de Agenário Ferreira, sacristão, e de um José
Caboclo. Em 1948, ele arranjara com o Sr. Arcebispo da Bahia, D.Augusto Álvaro
da Silva, um padre cooperador, pois, doente como estava, não mais podia,
sozinho, dar conta da tarefa da grande tarefa a que era incumbido. O cooperador
foi o Pe. Demócrito Mendes de Barros,, natura da cidade de Catú, que tomou
posse do cargo no mês de julho de 1948, o qual ficou a viajar em missão
apostólica pelas varias capelas das freguesias de Serrinha e Araci.
No dia 23 de maio de 1953, o já Mons. Carlos Olimpio Ribeiro entregou a alma a
Deus. Com o falecimento do Pe. Carlos, o Pe. Demócrito Mendes de Barros passou
a ser o vigário da freguesia de Serrinha, continuando também com a cura da
freguesia de Araci, que ainda visita mensalmente.
04. Sacerdotes Descendente de José Ferreira de Carvalho
Quero deixar aqui registrada, para que conste dos sinais de história religiosa de Araci, uma grande efeméride que, pela sua alta significação, faz juz ao eterno reconhecimento de todos quantos se interessam pelas coisas de sua terra.
No ano de 1938, em janeiro, daqui surgiram para o convento franciscano de
Esplanada, com a intenção de alise separarem para a vida religiosa missionária,
os então adolescentes João Lisboa, filho de José Lisboa (Sinhô da Chã),
Helvécio Carvalho, filho de José Celestino de Carvalho, e Celestino Pinheiro,
filho de João Donato Pinheiro.
Três anos depois, os dois primeiros sentiram faltar-lhes a vocação missionária,
deixando incontinenti o seminário, ou convento, ficando, porém o terceiro, o qual,
mais tarde, foi transferido para o convento de Alagoinhas e, depois, para o da
piedade, em Salvador, Bahia. No ano de 1948, o mesmo recebeu ordens do superior
do convento para seguir para a Itália, a fim de ali concluir os estudos. O dito
superior deu-lhe licença para vir até aqui visitara família e despedir-se, pois
desde que para ali fora nunca mais voltaria aqui. O referido seminarista aqui
retornou no mês de março do ano de1948, permanecendo cerca de 20 dias.
Naquela sua vinda, alguns parentes seus começara a persuadi-lo a mudar de ordem
eclesiástica, isto é, a deixa a ordem missionária pela secular. A princípio
recusou-se, mais depois resolveu aceder ao pedido. Assim que voltou a Salvador
expôs ao superior do convento aquela resolução, fato esse que desagradou o
superior, a ponto de receber o hábito do seminarista, mas negar-lhe a licença
para ingressar em outra ordem.
Começou aí a “via crucis” do nosso jovem conterrâneo. Dotado, porém, de uma
vocação sacerdotal a mais ardorosa, ficou muito acabrunhado e arrependido do
pedido que fizera ao superior do convento. Detentor, também, de uma fé robusta,
não desanimou nem desistiu do seu intento de ser, um dia ministro do altar de
Deus. Apelou para todos os meios viáveis a fim de conseguir prosseguir nos
estudos, e a conseqüente adoração sacerdotal. Bateu em muitas portas. Recebia
de vez em quando alguma esperança, porém, nada de concreto. Passou assumir
durante dois anos, trabalhando apenas no serviço de Deus como lhe fosse possível,
sem se deixar seduzir pelas ofertas enganosas do mundo.
Ao
cabo de dois anos de espera e de esforços contínuos. Deus foi servido ao
aceitar o sacrifício e boa vontade daquele coração. Enviou-lhe por intermédio
de um seu grande servo o prêmio da perseverança.
No fim do ano de 1949, recebia o nosso herói, por intermédio do bispo Caetité.
D. José Terceiro de Souza, a licença para reingressar num seminário, fato esse
que se verificou em fevereiro de 1950. O seminário em que ele foi admitido fica
na cidade de Diamantina, no estado de Minas Gerais. No ano de 1951, requereu
licença para cursar no seminário de salvador, Bahia, tendo sido atendido,
ficando ali até dezembro de 1953, quando concluiu os estudos.
Em 15 de novembro de 1953, recebeu lá no seminário a ordem de subdiácono. A 22
do mesmo mês, foi-lhe conferida a ordem de diácono. Finalmente, a 6 de dezembro
de 1953, foi sagrado sacerdote presbítero. Esta solenidade foi realizada na
igreja matriz de Serrinha, servindo de ministrante S. Exª Rvmª D.José Terceiro
de Souza que, à hora da missa por este celebrada, conferiu-lhe o sacramento da
ordem pelo ato da imposição das mãos.
O povo de Araci esperava com grande júbilo a ordenação do seu conterrâneo.
Trinta dias antes, começaram os preparativos para a recepção do mesmo. Foi
organizada a 1º de novembro, pelo Pe. Demócrito de Barros, uma comissão para
encarregar-se dos trabalhos alusivo à grande festa. A comissão ficou assim
constituída: José de oliveira Lima, presidente; Martiniano Ferreira da Mota,
vice-presidente; João Pereira de Pinho, 1º secretário; José Tibúrcio da Silva,
2º secretário; Dermenval Góes, tesoureiro; e auxiliares diversos.
Faltando 15 dias para a festa, o presidente da comissão acima descrita foi a
Salvador especialmente para comprar materiais para as novas cortinas da igreja,
fogo, e tomou outras providências necessárias. Mandou fazer um milheiro de
flâmulas em cartolina branca, onde foram impressos os seguintes dizeres: Salva Maria
Imaculada (de um lado), e Deus Guie o Pe. Celestino (na outra face). Estas
flâmulas foram colocadas nos postes de luz, nas portas da igreja e da casa dos
pais do Pe. Celestino, suspensas em arame no adro da Matriz, finalmente, em
forma de bandeirinhas com hastes, as quais foram distribuídas com o povo para
serem levadas à hora da chegada do Pe. Celestino. Foram distribuídas muitas
listas entre os encarregados para a aquisição de dinheiro com custeassem as
despesas da festa.
A novena da Imaculada Conceição foi iniciada, a exemplo dos anos anteriores, no
dia 29 de novembro, tendo sido convidado a vir organizar a mesma o Pe.
Francisco de Itu Gomes, missionário do Coração de Maria, o qual celebrava
diariamente a santa missa.
Foram impressos também milhares de programas da festa, os quais foram
distribuídos entre o povo. Os encarregados da ornamentação da igreja e das
ruas, tendo a frente o presidente da comissão, Sr. José oliveira Lima, fizeram
muitos milhares de metros de bandeirolas alvas e, na noite de 7 para 8 de
dezembro, passaram até o amanhecer ornamentando as principais ruas de Araci,
especialmente o trecho que fica entre a igreja e a casa da família do
neo-sacerdote. A igreja foi ornamentada de cortinas alvas, as quais foram feitas
pelo maior auxiliar da dita comissão, João Evangelista de Carvalho.
O altar da Virgem Imaculada foi ornado de flores naturais vidas de Feira de
Santana. Eram angélicas, hortênsias e margarida cujo perfume se espalhava
por todo o templo de Deus, que dava as aparências de um pequeno céu.
Às quatro e meia da manhã da terça-feira, 8 de dezembro de 1953, a população de
Araci foi despertada por uma linda alvorada. Os sinos da Matriz repicavam
alegremente como que anunciando o despontar de um grande e significativo dia
para a história de nossa terra. Subiam para o ar foguetes e fogos outros, de
grande variedade. Uma salva de 21 tiros, o espocarem de grandes dinamites
(bombas) completaram aquele grandioso espetáculo. Lá para as bandas do oriente
a aurora despertava também, enviando à terra os primeiros raios de luz.
Momentos depois, quando tudo ainda era silêncio, surgia o astro-rei como que a
sorrir, compartilhando de nossas alegrias espirituais e da felicidade que então
experimentávamos.
Tudo era encanto naquela expectativa da chegada do nosso querido conterrâneo e
parente. Nas residências, desde as vésperas preparavam-se os aposentos para
receberem-se as diversas pessoas que de muitos lugares vizinhos,
Capítulo
III
VIDA ADMINISTRATIVA DE ARACI DE 1890 A 1931
01. Elevação do Antigo Razo à Categoria de Município
VIDA ADMINISTRATIVA DE ARACI DE 1890 A 1931
01. Elevação do Antigo Razo à Categoria de Município
Com o
surgimento da casa de Deus no então lugarejo denominado Raso e a criação da
Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do mesmo nome, a sua vida urbana foi
progredindo, foram crescendo as ruas e aumentado a população. Embora
lentamente, mas sem parar a macha, formara-se a aldeia, o povoado e. mais
tarde, a freguesia, passando então a pertencer ao município de tucano. Os
habitantes do Raso, notando o constante crescimento de sua gleba natal, não só
na parte urbana, mas também na rural, começaram a cogitar da possibilidade de
sua emancipação política.
Em setembro de 1889, o Tenente Amerino de Oliveira Lima convocou uma reunião
entre os seus conterrâneos para, em comum, deliberarem à respeito de uma
fórmula a ser posta em prática a levarem avante a campanha redentora. A essa
reunião compareceram os principais cidadãos do raso. Havia entre eles muita
união e força de vontade, resultando disso uma perfeita compreensão. Assim é
que, ali reunidos firmaram as bases da referida campanha.
Entre os que ali compareceram notavam-se os seguintes: Amerino de Oliveira
Lima, Antônio Ferreira da Mota, Virgilio Eloy de Oliveira, Ângelo Pastor Ferreira,
João Ferreira da Mota (João do Caldeirão), Francisco Aristóteles de Carvalho,
José Pedro de Carvalho, José Roque de Oliveira, Higino Ferreira da Mota e
inúmeros outros, descendentes destes. Participou também da mesma reunião o Pe.
Júlio Fiorentini, então vigário da freguesia do Raso. Exceto o Pe. Júlio, Todos
os outros ali presente pertenciam à linhagem de José Ferreira de Carvalho, por
conseguinte, donos da terra pelo qual batalhavam Visando sua independência
político-administrativa.
Daquela reunião ficou assentado o seguinte:
- Uma comissão composta de 10 pessoas iria a Tucano com o fim de apresentar ao então intendente do Município um abaixo-assinado de moradores do Raso solicitando-lhes permissão para que o povo da referida localidade pudesse iniciar um movimento em prol da sua emancipação;
- Com o assentimento do dito intendente, uma outra comissão iria depois a Jeremoabo com o objetivo de avistar com o Barão de Jeremoabo, Dr. Cícero Dantas, a fim de consegui deste o seu valioso auxílio junto aos altos poderes do Estado, em benefício da causa que defendiam;
- Enviaram também um baixo assinado ao Governador do Estado, então Dr. José Gonçalves da Silva, solicitando-lhe amparo às suas jutas aspirações.
O Barão de Jeremoabo era amigo
íntimo do Cel. Antônio Ferreira da Mota (Cel. Laranjeira), do tenente Amerino
de Oliveira Lima, do Pe. Júlio e de muitos outros homens do Raso, já tendo
estado aqui varias vezes quando era hospede do Cel. Laranjeira. No dia 18 de
novembro de 1889, daqui partia, a cavalo, uma caravana composta de dez cidadãos
do Raso com destino a Tucano. Ali chegando, trataram imediatamente de se
avistarem com o Sr. Intendente, o qual era, então, o Sr. Bento José de Góes.
Expuseram-lhe a causa que os haviam levado até ali, e exprimiram-lhe o desejo
de que se achavam possuídos, apresentando também um baixo assinado dos habitantes
da freguesia do Raso, no qual se continham as justas aspirações dos mesmos. Os
nossos caravaneiros foram tão bem sucedidos que receberam da parte do Sr.
Intendente a mais inequívoca solidariedade para a sua causa. Outros cidadãos
tucanenses, amigos que eram dos que ali foram, se comprometeram, juntamente ao
Sr. Intendente, a auxilia-los no que fosse possível e preciso. Entre aqueles se
encontravam o Cap. João Bastos, o Coronel João Costa Pinto e outros.
Regressaram, então, os nossos
caravaneiros, radiante de alegria, é claro. Aqui chegando, iniciaram a campanha
emancipacionista, tendo, acima de tudo, o espírito voltado para Deus, sem o
qual nada é possível. Começaram os preparativos para a nova viagem; esta, à
cidade de Jeremoabo. O Pe. Júlio não media esforços para ajudar o povo do raso
naquele movimento. Nos seus sermões dominicais conclamava-o a cerrar fileira em
torno dos conterrâneos que estavam a frente da luta. Ensinava-lhe ser patriota
e amigo de sua terra. Estava iniciada a batalha idealista.
No dia 8 de março de 1890, daqui
seguiu a caravana rumo a Jeremoabo, tendo à frente o Pe. Júlio Fiorentini. Os
componentes da mesma foram os seguintes: Amerino de Oliveira Lima, Antônio
Ferreira da Mota, Antônio de oliveira Mota (Toinho), Ângelo Pastor Ferreira,
Virgilio Eloy de Oliveira, Francisco Aristóteles de Carvalho, o citado Pe.
Júlio Fiorentini, e outros.
Saíram, a cavalo, e passaram
longos dias na viagem. Ao chegarem a Jeremoabo, foram gentilmente recebidos
pelo Barão. O Pe. Júlio tomou então a palavra e, em nome dos demais, expôs ao
Barão a fidelidade da ida, até ali da dita caravana. Entregou também ao mesmo
uma recomendação do Intendente de Tucano, a qual lhes fora fornecido pelo o
mesmo na passagem da caravana por ali. Pediu ainda ao Barão que, com sua
valiosa qualidade de homem público, amparasse aquela causa e a referendasse
junto aos poderes do Estado.
O Barão, muito comovido pela
prova de patriotismo daqueles seus amigos sertanejos, lhes prometeu que tudo
iria fazer para a concretização daquele elevado ideal. Disse-lhe, ainda, que
lhes daria sua palavra de honra no sentido de se esforçar para que o Raso
recebesse sua independência antes de terminar aquele ano de 1890.
Regressaram satisfeitos nossos
heróis, pois o destino estava-lhes sendo favorável. Enviaram, então, um
abaixo-assinado ao Governador do Estado em que foram delineados os planos
gerais do movimento, e a solicitação, ao mesmo, da sua boa vontade para
atendê-los naquela aspiração.
O Pe. Júlio continuou a sua ajuda
benfazeja referendado o magno assunto junto a seus amigos da alta roda
política, no qual era seguido pelos mais fervorosos componentes da campanha.
Todos trabalhavam sem medir esforços físicos e pecuniários; venciam todas as
dificuldades peculiares à aquisição das coisas boas. Sem desfalecimentos,
trabalharam até ver realizado o sonho dourado, a independência de sua terra.
O Barão, por sua vez, se
empenhava com todo carinho, pondo os nossos heróis a par do que ia
providenciando, por meio de correspondências. Era ele um impávido sertanejo que
acatava as legítimas aspirações dos seus irmãos do sertão. Conhecia
perfeitamente as necessidades daquele povo, sem proteção dos poderes públicos.
Como bom sertanejo que era tudo fez até ver o resultado concreto daquilo que
prometera a seus concidadãos.
Naquele tempo após a Proclamação
da República Brasileira no ano de1889, ainda não havia sido instalados os
legislativos estaduais, de forma que as atividades do Barão foram diretamente
junto ao Governo Baiano no sentido de arranjar com o mesmo a emancipação
política de então Raso.
Os homens naquele tempo tinham
firmeza na palavra e retidão nos atos. Raramente, e em grande maioria, se
encontrava algum que decepcionasse aos que nele confiavam. Assim é que, como a
mercê de Deus, foi assinado a Lei Áurea que criou o Município do Raso.
A cópia do decreto foi por mim
adquirida nos restos do arquivo da ex-Intendência Municipal do Raso, depois
Araci, a qual guardo com todo o carinho, apesar do seu precário estado de
conservação. Tenciono bota-lo num quadro para quando, algum dia, Araci tiver a
dita de recuperar a sua autonomia, eleva-la no edifício da Prefeitura, em uma
das paredes. A dita cópia foi enviada para aqui pelo governador que assinou o
ato, a pedido do senhor Vicente Ferreira da Silva, conforme se lê em carta
dirigida por aquele para este.
Eis a transcrição do ato em
apreço:
1ª SEÇÃO – ATO
O Governador do Estado resolve,
pelo, presente Ato, elevar a freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Raso,
desmembrada do Município de tucano, à categoria de Vila, com a denominação de
Vila do Raso, continua a fazer parte da Comarca de Serrinha.
Palácio do Governador do Estado
da Bahia, 13 de Dezembro de 1890
(assinado): José Gonçalves da Silva
Conforme: O Secretário, Manoel Pedro de Rezende
Confere: F. Rocha.
Quando o povo do raso recebeu,
por intermédio do seu protetor, o Barão de Jeremoabo, a notícia de sua
independência, exultou de alegria. Foi então convocada uma outra reunião, pelo
mesmo Amerino de oliveira Lima, a fim de deliberarem sobre as primeiras
providências a serem adotadas em relação à instalação da nova unidade
administrativa. Uma vez reunidos, usaram da palavra o Pe. Julio Fiorentini que
se congratulou com seus paroquianos pelo feliz resultado da campanha
emancipacionista, conclamando a todos os presentes para se dedicarem de corpo e
alma ao serviço de sua terra, aconselhando ainda a que todos aumentassem, cada
vez mais, a fé e a confiança na misericórdia de Deus. Em seguida falou Amerino
de Oliveira Lima que, num brilhante improviso, agradeceu primeiramente ao Pe.
Júlio pela grande preciosa ajuda que lhe proporcionara em todo o tempo que
duraram as atividades da campanha.
Capítulo IV
ATIVIDADES COMERCIAIS, CULTURAIS E OUTROS NA HISTÓRIA DE ARACI
01. O Comércio Varejista.
ATIVIDADES COMERCIAIS, CULTURAIS E OUTROS NA HISTÓRIA DE ARACI
01. O Comércio Varejista.
Antes de inicia a
história distrital de Araci após a suspensão da sua autonomia municipal, quero
descrever a parte econômica, financeira, cultural, judiciária, policial, recreativa,
progressista e de assistência educacional, bem como varias outras notícias
informativas da história de Araci no passado e no presente.
No início da vida de Araci, os seus habitantes se abasteciam de gêneros
alimentícios, tecidos e medicamentos nas cidades de Tucano, Feira de Santana,
Alagoinhas e outras. Com o ocorrer do tempo, foram instalados barracões e venda
para aquisição mais fácil de gêneros de primeira necessidade.
Ângelo Pastor Ferreira foi quem instalou a vida comercial propriamente dita na
então freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Raso. Negociou ele em uma casa
à Rua 13 de Maio, conhecida naquele tempo por Beco do Tucano. Era por ali que
passava diariamente os condutores de tropas vindas da Beira do Rio, Tucano, Bom
Conselho e outros lugares, os quais se abasteciam de viveres no barracão de
Ângelo Pastor para se alimentar no resto da viagem. Anos depois, negociou
também na mesma rua o Sr. José Roque de oliveira, filho de Ângelo Pastor,
instalou-se numa casa com a frente para leste, sendo que a janela da mesma
servia também de balcão para a venda.
No ano de 1881, o mesmo Sr. José Roque edificou uma casa na Praça da Conceição,
para fins comerciais, sendo que o primeiro balcão foi construído de barro. No
mesmo ano instalou ali com o ramo de tecidos, molhados e produtos
farmacêuticos. Foi aquela a primeira loja de tecido instalada em Araci. O dito
proprietário ali negociou até o ano de 1932, quando faleceu, deixando-a à sua
viúva. Da. Maria lídia, que também passou a seu sobrinho, Domiciano Oliveira,
antes de falecer em 1950. O atual proprietário da mesma é o dito Sr. Domiciano
Oliveira.
O Coronel Vicente Ferreira da Silva foi também comerciante, ficando a sua casa
à Rua Barão de Jeremoabo. A dita casa foi mais tarde demolida e reedificada; é
a que atualmente serve de açougue e vanda de secos e molhados, pertencente a
Cornélio Pinho. Fica a Mesma vizinha a residência de Deusdedit Alves.
No ano de 1890, o Cel. Antônio Ferreira da Mota em companhia de sue filho,
Antônio de Oliveira Mota (Toinho), fundou a loja Araci de Mota & Filho,
casa esta que fica à praça da conceição, formando esquina com a Rua Barão de
Jeremoabo. Anos mais tarde. Toinho casou-se e foi negociar por conta própria em
outra casa vizinha à loja Araci. Em lugar de Toinho, foi negociar na loja Araci
seu irmão Emílio Ferreira da Mota, ao qual mais tarde sucedeu seu irmão Irineu
Mota, que ali negociou até o ano de 1915. Como caixeiro deste ultimo,
trabalhava na loja Araci o jovem João de Oliveira Mota, filho de Francisco
Ferreira da Mota e sobrinho de Irineu Mota.
No ano de 1915, Irineu casou-se e foi residir na fazenda Paiaia, no município
de Inhambupe. Em seu lugar ficou seu sobrinho João de Oliveira Mota negociando
também de sociedade com o primeiro fundador, Cel. Antônio Ferreira da Mota. A
20 de agosto de 1928, falecia o dito fundador, Cel Antônio Ferreira da Mota.
Seu neto, João Oliveira Mota, que já era sócio da dita loja, comprou a outra
parte aos então herdeiros do falecido, ficando dali em diante até os dias
atuais como proprietário único da Loja Araci.
A loja de Antônio Oliveira Mota (Toinho) ficava na casa que hoje está dividida
em duas, pertencendo uma parte a meu pai, Nicolau de Lira Carvalho e a outra a
D. Maria da Glória da Mota (Cota) onde negocia esta. Quando Toinho faleceu, sua
viúva ficou negociando na dita casa, tendo como caixeiro o Sr. Manoel Bispo dos
Santos, o qual também era então secretário da intendência de Araci na segunda
gestão do Cel. Vicente Ferreira da Silva. A mesma casa pertenceu mais tarde ao
Sr. João Ramos dos Reis, esposo da professora Da. Amélia Mota, filha de Antônio
de Oliveira Mota, que anos depois vendeu ao Sr. Durval da Silva Pinto, filho do
professor Olavo Pinto. Lembro-me ainda de um grande dístico que o Sr. Durval
mandou pintar na fachada da dita casas onde se lia o seguinte “Bazar Democrata
de Durval da Silva Pinto”. Posteriormente, o Sr. Durval resolveu liquidar o
giro comercial ali instalou o seu cartório, pondo então uma placa com os
seguintes dizeres: “Cartório do Civil e Crime”.
Na mesma época o Major Leobino fundou outra casa comercial, pelo ano de 1912. A
dita casa fica à Praça da Conceição, defronte à Loja Araci, fazendo esquina
para a Rua 13 de maio. O Sr. Leobino ali negociou até o ano de 1927 quando se
transferiu para Serrinha, deixando em seu lugar seu filho Lindolfo Bacelar.
Em 1920, o Sr. Antônio Bacelar, filho de Leobino Bacelar, instalou-se na casa que ficava à esquina da Rua Barão de Jeremoabo, defronte a loja Araci, tendo, anos depois, mudando-se para Serrinha e passando a mesma a seu irmão Jambinho, sendo que este também foi, mais tarde, para Serrinha, entregando a dita casa a seu irmão Lindolfo, que transferiu-se da casa onde negociava Leobino, indo reinstalar-se ali, permanecendo até o ano de 1928 quando liquidou o negócio e foi também para Serrinha.
Em 1920, o Sr. Antônio Bacelar, filho de Leobino Bacelar, instalou-se na casa que ficava à esquina da Rua Barão de Jeremoabo, defronte a loja Araci, tendo, anos depois, mudando-se para Serrinha e passando a mesma a seu irmão Jambinho, sendo que este também foi, mais tarde, para Serrinha, entregando a dita casa a seu irmão Lindolfo, que transferiu-se da casa onde negociava Leobino, indo reinstalar-se ali, permanecendo até o ano de 1928 quando liquidou o negócio e foi também para Serrinha.
No ano de 1920, o Sr. Tomás Pereira da Silva fundou uma casa comercial no
prédio defronte a loja de Leobino Bacelar, no outro lado da Rua 13 de Maio. No
ano de 1925, vendeu a dita casa a seu irmão João Tibúrcio da Silva, o qual
passou a negociar em sociedade com o seu cunhado, João Pereira de Pinho. Em
1928, mudaram-se desta casa para a que pertenceu, anos atrás, a Antônio
Bacelar, na esquina da Rua Barão de Jeremoabo, na qual ainda hoje negocia o Sr.
João Pereira de Pinho. No ano de 1945, o Sr. José Tibúrcio deixou a dita
sociedade e foi fundar o Armazém Estrela do Norte, o qual ficava no prédio sito
à esquina da Rua 7 de Setembro. No ano de 1952, o dito armazeém foi
transformado em bar, o qual é o atual Bar Oriente, pertencente ao mesmo senhor
e a seu genro Dermeval Góes.
No ano de 1924, os irmãos Nicolau de Lira Carvalho e Antônio Gonçalves de
Carvalho fundavam uma casa comercial na Rua Barão de Jeremoabo, com o ramo de
secos e molhados, forragens, louças, miudeza e outros artigos. Foi pintado na
fachada da dita casa o seguinte dístico: Bazar 66 de Carvalho & Irmão.
Em 1932, com o surgimento de mais uma grande seca, houve grandes prejuízos
comerciais na dita casa, tendo os sócios sido de acordo pelo o fechamento
provisório da mesma.
No ano de 1918, o Sr. José Pedro de Carvalho iniciou um pequeno ramo de
negócio, sendo que mais tarde transferiu-se para o arraial de João Vieira,
levando também todo o estoque da dita casa, estabelecendo-se ali.
A Loja Guarani, de propriedade de José Lima & Cia., foi fundada no dia 8 de
setembro de 1935. São sócios da firma os seguintes: Nicolau de Lira Carvalho
(meu pai), José de oliveira Lima (meu esposo) e Fábio Carvalho (meu irmão).
Explora os seguintes ramos comerciais: tecidos, chapéus, miudezas, perfumarias
e vários outros artigos. Existe na mesma uma seção de produtos farmacêuticos
que muito contribuem para favorecer a uma localidade como a nossa, destituída
de uma assistência médica e farmacêutica.
O Abrigo, situado à margem da rodovia transnordestina “Epitácio Pessoa”, foi
construído no ano de 1945, por Erasmo de Oliveira Carvalho, tendo vendido mais
tarde ao Sr. José Tiburcio da Silva, que é o atual proprietário.
Com o surto de progresso que Araci passou a gozar neste último decênio, isto é,
do ano de 1944 para cá, a sua vida comercial aumentou e continua aumentado
consideravelmente. Já existem atualmente 35 casas comerciais, situada nas
diversas ruas, a saber: o Abrigo, a casa de Domiciano, as de João Mota, Maria
da Glória Mota, João Pinho, Antônio Carvalho, Martiniano Mota, Francisco
Santos, Cornélio Pinho, Maria da Paz Dantas, José Lourenço, Prisco Paraíso,
Dionízio Carvalho, José Lima, Pedro Ferreira, Pedro Alvino, José Beró, Antônio
Pinheiro, Tomaz Barreto, Farmácia de João Moura, casa de Antônio Pastor, Bar
oriente, casa de Álvaro Oliveira, Virgílio Bacelar, Inocêncio Moreira, João de
Deus Pereira, Celso Mota, Isidro Pinho, Francisco Mota, Ormino Salvador, Manoel
Cabral, José Bacelar Carvalho, Pedro Pinheiro, Davi Lima, Lúcia Santos, além de
várias barracas de café, doces, frutas etc., que funciona diariamente. As casas
comerciais acima enumeradas exploram os ramos de tecidos, forragens,
perfumarias, miudezas, gêneros alimentícios, padaria, bebidas, louças,
medicamentos, aves e ovos para exportação e tudo o mais concernente ao serviço
comercial.
02. A prestação de Serviços
CASAS DE HOSPEDAGENS
No ano de 1920 foi instalada em Araci a primeira casa de hospedagem, cuja
proprietária foi Da. Francisca Lopes Mota, viúva de Antônio de oliveira Mota
(Da. Xixi). Era de pouco movimento e só de vez em quando hospedavam-se os
viajantes comerciais.
No ano de 1934, Da. Xixi alugou-a a Gertrudes do Espírito Santo, natural de
João Vieira. A dita pensão era na casa situada junto à Loja Araci, pertencente
hoje a Álvaro Ferreira de Carvalho, onde mora e negocia. No ano de 1928, aqui
chegava de Pedra Alta o Sr. Crescêncio Lopes, que instalou outra pensão na casa
onde hoje se encontram a padaria Primor e uma farmácia.
Em
1936, uma filha do Sr. Crescêncio, que se chama Leonor (Inha), casou-se e
iniciou outra pensão, a qual tem atualmente o nome de Pensão Sertaneja. Com a
passagem da rodovia transnordestina por esta Vila, aumentou consideravelmente o
tráfego de veículos e o movimento de passageiro que diariamente procuram as
casas de hospedagens para fazer suas refeições e também pernoitarem. Por este
motivo, foram surgindo novas pensões e hotéis.
Atualmente existem em Araci as seguintes casas de hospedagem: Pensão sertaneja,
Hotel Nortista, Pensão Brasil, Pensão São José, Pensão Santo Antônio, Pensão
São Jorge, Pensão Paraibana, Pensão Riso do Norte, Pensão Santana, Pensão
Pernambucana, Avenida Hotel, no total de onze. Já se estão preparando casas
para novas instalações de Hotéis, as quais serão abertas em breves dias. Estas
casas acima enumeradas ficam localizadas nas diversas ruas situadas à margem da
rodovia transnordestina Epitácio Pessoa.
BARBEARIAS
Desde os primeiros tempos têm existido vários proprietários de barbearias.
Atualmente existem cinco barbearias em Araci, as quais funcionam diariamente
com grande movimento.
MERCENARIAS
Os filhos de José de Carvalho eram todos artífices, existindo entre eles alguns
marceneiros, os quais trabalham na preparação de portas, janelas e outros
móveis que serviram para aparelhar as casas que abrigaram os nossos
antepassados e os seus descendentes. Dali para cá têm havido muitas outras
marcenarias. Atualmente existe a marcenaria de Jadir Oliveira, o qual é trineto
de José Ferreira de Carvalho e trabalha com grande perfeição, sendo ali
encomendado todos os móveis indispensáveis às residências e casas comerciais de
Araci e de lugares vizinhos; e a marcenaria de Reginaldo, que produz também
quase em igualdade à de Jadir. Existem ainda várias outras que, na zona urbana
ou rural, preparam muitas peças de madeira para uso domiciliares.
PADARIAS
Existem seis padarias em Araci, sendo que as duas principais são: a Padaria São
Francisco, de Francisco Atenodório Mota, e a Padaria Primor, de Antônio Pastor
de Oliveira, As outras quatro pertencem a Celso Mota, João Donato Pinheiro,
José Maia e Zezinho Beró.
FERRARIAS
Sempre existiram em Araci casas de ferreiro, nas quais se trabalhavam em obras
de ferro. Atualmente existem quatro ferrarias, onde se fabricam inúmeras peças
de ferro, consertam-se máquinas de costuras e de agricultura e inúmeras coisas
de utilidade doméstica.
ALFAIATARIAS
Até a pouco tempo existiam as alfaiatarias Elegante e Dedal de Ouro, as
quais foram fechadas por motivo de viagem de seus proprietários. Existem
atualmente a alfaiataria de João Evangelista de Carvalho e várias outras
pertencentes a muitas pessoas, as quais não possuem nomes.
FARMÁCIAS
Existe na loja Guarani, de José Lima & Cia., uma seção de produtos
farmacêuticos com um grande e variado estoque de medicamento de todas as
qualidades e apresentações. Aplicam-se ali, diariamente, grandes números de
injeções, vacinas preventivas e muitas outras intervenções cirúrgicas nos casos
de pequena gravidade. Existe também uma outra farmácia que foi fundada no ano
de 1951, a qual pertence a Paulinho Santana, de Serrinha, tendo como sócio o
Sr. João Moura. Esta fica Junto a Padaria Primor.
SAPATARIAS
A primeira sapataria que existiu em Araci pertenceu ao Sr. Nicolau Lira de
Carvalho e foi fundada no ano de 1915. Antes existiam alguns sapateiros que
trabalhavam em pequenas escala na própria residência. Com a instalação da
sapataria acima referida, começaram a fabricar em Araci calçados em grande
escala e de todas as formas em voga na ocasião, funcionando a mesma até o fim
do ano de 1932. Atualmente existe a sapataria de Antônio Geraldo, bem como
varias outras menores, que fabricam calçados de várias espécies.
AGÊNCIA POSTAL
No ano de 1912, o então intendente e o conselho municipal fizeram uma solicitação
ao Senado e à Câmara no sentido de ser instalada em Araci uma agência postal.
Em outubro do mesmo ano, a agência era inaugurada, para qual foi nomeado agente
o Sr. João Pastor de Oliveira, que ficou a frente do cargo até o mês de julho
de 1942 quando, em avançada idade e em quase total decrepitude, foi aposentado
daquele cargo.
03. Atividades Culturais e Recreativas
SOCIEDADE FILARMÔNICA JUVENIL ARACIANA
No ano de 1906, o dinâmico e progressista Antônio de Oliveira Mota, então
intendente do município de Araci, convocou uma reunião entre os seus
concidadãos com o fim de comunicar-lhes o seu desejo de fundar, em Araci, uma
sociedade filarmônica. Uma vez reunidos, trataram do dito assunto, o qual foi
plenamente apoiado por todos ali presentes. Daquela reunião ficou assentada a
base do movimento a ser levado a efeito em prol da dita sociedade a se
instalar.
O Sr. Intendente distribuiu várias listas para aquisição de dinheiro dentre o
povo afim de adquirir os respectivos instrumentos musicais. Aos seus apelos
atenderam em unanimidade todos os cidadãos aracienses, consciente e patriota.
De todas as classes sociais recebeu o apoio decisivo à sua nova iniciativa.
Todos contribuíram à medida de suas possibilidades e, desta forma, foi angariada
a quantia de dinheiro suficiente para a compra do instrumental. Uma vez
chegados estes, o Sr. Intendente contratou um professor de música de nome Pedro
Araújo, o qual ministrou os primeiros ensinamentos de lições de músicas à
juventude aracienses daquele tempo. A união e a boa vontade dominavam aquele
povo que não mediam sacrifícios para levar a bom termo causas nobres como esta
e outras.
No dia 8 de dezembro de 1906, a filarmônica foi inaugurada, tocando então, pela
primeira vez, na festa da Imaculada Conceição de Maria Santíssima, Padroeira de
Araci. Naquele dia, o Sr. Intendente batizou a sociedade com o nome de
Sociedade Filarmônica Juvenil Araciana.
Ainda alcancei a dita filarmônica em pleno funcionamento. Todas as noites eu
ia, com minhas colegas de infância, para as janelas da sede da sociedade
escutar os ensaios de músicas. Lembro-me muito bem de um dístico de madeira que
havia encimado a frente da sede da sociedade, onde entre das liras se ligam
gravadas, também em madeira, as seguintes palavras: Sociedade Filarmônica
Juvenil Araciana. As letras eram pintadas nas cores verde e amarelo. Não sei
que fim teve aquele lindo e histórico dístico.
Lembro-me também de muitos dos músicos que compunham a dita sociedade. Entre
eles figuravam meus tios José, João e Fláviano Mota, os quais tocavam caixa de
guerra, contra-baixo e pratos, respectivamente; João e José Pinheiro, que eram
músicos de trombone e soprano, respectivamente; José Bispo, que tocava
clarineta; Prisco Paraíso e José Jerônimo, ambos de trompa e piston.
A dita sociedade era composta de presidente, secretário e tesoureiro. Os
principais cidadãos aracienses eram todos sócios da mesma, os quais contribuíam
mensalmente na parte financeira para a manutenção do professor de música e a
compra de materiais necessários à mesma. Os músicos tocavam gratuitamente,
recebendo somente, de vez em quando, algum banquete oferecido pelos sócios.
Lembro-me de alguns banquetes e piqueniques efetuados à sombra das grandes
cajazeiras que então existiam em nossa praça, onde a filarmônica tocava depois
dos referidos banquetes.
Depois de alguns anos que aqui residia, o professor Pedro Araújo foi-se embora,
sendo então substituído pelo professor Honório Natural de Feira de Santana, o
qual era aqui conhecido como Honório de Feira. Mais tarde, este foi também
substituído por um seu irmão de nome Genésio.
No ano de 1912, sucedeu ao professor Genésio um outro de nome José Maria. A
Filarmônica ia aos poucos se desenvolvendo. Entre período mais fraco e mais
forte, foi atravessando o tempo. Os seus presidentes foram: Antonio de Oliveira
Mota, Amerino de Oliveira Lima, Francisco Ferreira da Mota, Emílio Ferreira da
Mota, Nicolau de Lira Carvalho e Flaviano Ferreira da Mota. Todos eles
assistiram com eficiência, à medida das possibilidades de cada tempo, as
necessidades da Sociedade.
Ao professor José Maria sucedeu, no ano de 1916, o professor Pedro Araújo, o
mesmo que havia sido o primeiro professor, no ano de 1906. Houve depois um
outro nome Ambrosio. Com a morte do fundador da Sociedade Filarmônica, Antonio
de Oliveira Mota, no ano de 1908, a dita sociedade enfraqueceu um pouco. Era
ele um grande sócio e animador constante, que tudo fazia para o progresso da
mesma. Anos depois, com a saída de alguns músicos de Araci para outros lugares,
e com a falta de recursos financeiros oriunda dos maus tempos, a dita sociedade
sofreu sérios reveses. Somente para as festas da padroeira eram convidados
alguns professores de fora para com um mês antes, fazerem alguns ensaios.
A última vez qual a Filarmônica tocou integralmente com todos os seus
instrumentos, foi dia 8 de dezembro de 1924. Houve naquele dia uma grande
corrida de animais, com o jogo da “ponta de lança na argola”. Durante todo
tempo que durou a corrida, a banda de música executava marcha e dobrados do seu
repertório, sob a fronde de enorme cajazeira que então existia no local que
ficava à frente da Loja Guarani, Ali também ficava o povo a apreciar a corrida
de cavalos, que se efetuava no centro da Praça da Conceição. Nunca me esqueci
daquela festa, que assisti nos meus oitos anos de idade, idade cantada pelo
grande poeta Casimiro de Abreu.
O professor Euclides foi o último professor que atuou na referida sociedade.
Era natural de Serrinha e sucedeu ao professor Ambrósio. Com o enfraquecimento
da mesma, ele voltou para Serrinha, onde era de vez em quando convidado vir
ensaiar missas cantadas e outros cantos para a festa da Padroeira de Araci.
Contou-me o Sr. João Donato Pinheiro que o instrumental da banda de Araci era o
melhor que existia nesta zona nordestina, e era gabado por todos os professores
que aqui ministraram o ensino musical. Com o tempo foi-se esfriando o
entusiasmo da referida filarmônica por parte dos sócios e dos músicos. Os
instrumentos, as estantes, os arquivos, foram caindo em verdadeiro abandono até
o seu total desaparecimento. Ficaram, no entanto, muitos instrumentos em
perfeito estado de conservação. Segundo a história que ouço de muitas bocas,
foram os mesmos emprestados a várias filarmônicas de outros lugares, inclusive
de Serrinha, sem nunca mais serem devolvidos.
Quer por desentendimento político, quer por conseqüências outras, oriundas dos
efetivos de várias crises financeiras, desapareceu completamente a Filarmônica
Juvenil Araciana. Foi ele, sem dúvida, mais um dos grandes feitos do ilustre e
abnegado araciense Antônio Ferreira da Mota. Ainda hoje existe como sinal de
quem já existiu, uma caixa-de-guerra, a qual as escolas de Araci tocam quando
desfilam pelas ruas, em tempo de festas escolares. Fica aqui encerrada a
história de mais um dos fatores do progresso e cultura que Araci já possuiu nos
seus áureos tempos.
RÁDIO SOCIEDADE DE ARACI
No ano de 1935, alguns aracienses iniciaram uma campanha a fim de angariar
dinheiro para a aquisição de novos instrumentos musicais para, com os ainda
existentes da velha filarmônica, formarem uma nova banda de música. À frente do
movimento estava os Srs. Simão Carneiro, José Pinheiro. João Pinheiro, Prisco
Paraíso e outros. Fizeram-se leilões, subscrições etc. Todo o dinheiro que se
ia angariando era depositado em mãos do Sr. Pedro Ferreira de Oliveira. Ao cabo
de três anos de iniciada campanha, os mesmos encarregados começaram a coagitar
da compra de um rádio, visto os instrumentos musicais estarem então custando
preços elevados. Com a aquiescência de uns e a má vontade dos outros, foi
comprado um grande rádio marca Mullard aos Srs. Bacelar & Cia., de
Serrinha, o qual foi instalado no prédio da ex-prefeitura no dia 11 de setembro
de 1938. Foi então fundada uma outra sociedade que se intitulou Radio Sociedade
de Araci. Foram inscrito vários sócios, os quais contribuíam mensalmente com
dinheiro para a manutenção de carga de acumuladores, iluminação, higiene do
prédio etc. Todos os domingos as famílias dos sócios ali se reuniam para ouvir
as músicas do rádio.
Por falta de cooperação e por desentendimentos de vários sócios, a dita
sociedade foi dissolvida no ano de 1941, tendo sido o aparelho de rádio vendido
ao Sr. Misael Cunha pelo sócio José Verdelino Pinheiro.
SOCIEDADE CULTURAL, RECREATIVA E PROGRESSISTA DE
ARACI
Em 1945 foi fundada uma outra organização que se instalou Sociedade Cultural,
Recreativa e Progressiva de Araci. Tinha ela a finalidade de comprar livros
educativos e de ensinamento profissionais a fim de facilitar o ensino
literário-profissional às classes menos favorecidas pela fortuna. Algum tempo
funcionou a mesma, tendo os seus sócios adquiridos, por meio de compra e
oferta, grande número de livros, existindo entre estes até exemplares da
Sagrada Escrituras. Como todas as iniciativas sem o auxílio do poder público
tendem ao enfraquecimento financeiro, assim foi também a sobredita sociedade,
que depois de funcionar por algum tempo voltou a estaca zero, por falta de
contribuições dos respectivos sócios.
Muitos dos livros já adquiridos foram distribuídos entre os sócios.
Capítulo V
A RESTAURAÇÃO DA FAMÍLIA DE ARACI
01. Protestos Populares Contra a Suspenssão do Município de Araci.
A RESTAURAÇÃO DA FAMÍLIA DE ARACI
01. Protestos Populares Contra a Suspenssão do Município de Araci.
Com a suspensão do município de Araci e a sua anexação ao de Serrinha, no
ano de 1931, começou para a nossa terra uma fase de sofrimento e preterições
sem conta. Sua renda foi desviada para sua nova “senhora”, e sue progresso
começou a descer, a definhar, sob o peso da escravidão. Em julho de 1935,
foi-lhe imposta a opressão total. Passou então a ser apenas um simples distrito
de paz, sem direito a reclamar ou protestar, pois estava inteiramente dominado
pelo direito da força.
Naquela nova fase para a vida de nossa terra, surgiram vários outros protestos
contra aqueles que entenderam de sobrepujar a força do direito pelo direito da
força. O primeiro protesto saiu do coração do então nosso vigário, Cônego
Carlos Olímpio S. Ribeiro. Na mesma semana em que Araci recebeu o golpe de
misericórdia para acabar de sucumbir, pois havia quatro anos que jazia morrendo
aos poucos, o nosso querido vigário viera celebrar uma missa aqui, a qual teve
lugar no dia 21 de julho de 1935. Ao chegar à noite do dia 20 de julho, a
Araci, notou que alguns aracienses, que nada tinha haver com nossa tradição de
povo livre, estavam a fazer festa como era de costume, sem se importar com a
situação a que fora submetida naquela semana, a sua terra. À hora do sermão, ao
evangelho da missa do dia 21, o Padre Carlos começou a lamentar e protestar
sobre tão nefando egoísmo em que os homens que se diziam grandes, ao invés de
propiciarem benefícios aos que dele dependiam, praticavam atos que tais,
avançando sobre o direito e a soberania de um povo que nada lhe devia,
atirando-o ao abandono e ao cativeiro.
Disse ainda o Padre Carlos que ficara horrorizado quando, à sua chegada a
Araci, notou que alguns aracienses estavam a dançar em animado baile, ao
contrário do que deviam fazer naquela emergência que era chorar, quais novos
Jeremias, a desdita da sua terra. Concitou então o seu querido povo de Araci a
trabalhar para reaver a sua independência. Disse mais que, apesar de ter a vida
municipal de Araci sofrido aquele ato de inferioridade. Esperava que seu povo
permanecesse fiel às suas tradições religiosas, e que ele, o Padre, estaria
sempre ao lado do seu povo e não permitiria que a paróquia de Nossa Senhora da
Conceição fosse também supressa, a qual continuaria a ser sempre uma freguesia
modelar com a ajuda de Deus e a boa vontade dos homens.
FIM
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BIBLIOGRAFIA:
HISTÓRIA DE ARACI (período de 1812 a 1956)
- Maura Mota Carvalho Lima.
OBSERVAÇÃO:
- Este livro escrito por Dona
Maura contou com a colaboração de suas irmãs, professora Lourdes e Dona Nair,
que pesquisando arquivos da antiga prefeitura, encontram importantes notas e
relatos históricos.
Ass. Pr. João Rogério Mota Carvalho
Cerqueira (Filho Adotivo)
Esta obra
"HISTÓRIA DE ARACI" de Maura Mota C. Lima, foi autorizada para
este site pelos responsáveis deste título.
- Pastor: João Rogério Mota Carvalho Cerqueira (filho adotivo de Maura Mota Carvalho Lima).
- Professora: Ana Nery Fátima Carvalho Silva (Sobrinha).
Fonte: http://ftmtito.hd1.com.br/index.html