Há danos materiais em seis cidades, segundo o Ministério do
Interior. Vários meteoritos foram encontrados em terra. Não há relação
com o asteróide que passa nesta sexta-feira perto da Terra.
Pelo menos 1200 pessoas ficaram feridas depois de um
meteoro de 10 a 40 toneladas se ter desintegrado na atmosfera, sobre a
Rússia, despejando meteoritos na região de Cheliabinsk, a leste dos
montes Urais.
Os habitantes de Cheliabinsk foram surpreendidos,
cerca das 9h30 (3h30 em Lisboa), por um rasto incandescente a cruzar o
céu, seguido de um intenso clarão. Uma grande explosão ouviu-se depois,
partindo vidros, danificando coberturas e fazendo disparar os alarmes
dos automóveis. Muitos dos feridos foram atingidos por estilhaços dos
vidros.
A zona mais afectada fica perto da cidade de Cheliabinsk, a
cerca de 1500 km de Moscovo. O estado de emergência foi declarado em
três distritos da região - Krasnoarmeisky, Korkinsky e Uvelsky. Entre os
feridos contavam-se, segundo a agência Itar-Tass, mais de 200 crianças.
Num
balanço apresentado ao princípio da noite, hora local, contavam-se 170
mil metros quadrados de vidros partidos, 2962 edifícios de apartamentos e
361 escolas danificadas. A principal prioridade do Governo era a de
acalmar a população e reinstalar os vidros no menor espaço de tempo
possível, dada as temperaturas polares que se sentem naquela região
nesta altura.
Uma
fonte do Ministério do Interior russo citada pela AFP refere estragos
materiais em seis cidades. A agência RIA Novosti diz que foram atingidas
três regiões da Rússia e do vizinho Cazaquistão.
"Informações
verificadas indicam que foi um meteoro que se incendiou quando se
aproximou de Terra e se desintegrou em pequenas partes", disse Elena
Smirnykh, do Ministério das Situações de Emergência, citada pela RIA
Novosti. Segundo a agência espacial russa, Roscomos, deslocava-se à
velocidade de 30 quilómetros por segundo.
Vários meteoritos terão
atingido o solo.“Houve dezenas de fragmentos consideravelmente grandes,
alguns dos quais chegaram ao solo”, disse o ministro russo das Situações
de Emergência, Vladimir Puchkov, citado pelo agência. “Equipas
especiais de cientistas estão no local a estudar estes fragmentos.”
Imagens
mostram um círculo geometricamente talhado por um destes fragmentos que
caiu sobre um lago congelado próximo da cidade de Chebakul.
A
Roscomos informou que é difícil prever este tipo de ocorrência. "Segundo
a informação disponível, o objecto não foi registado pelos sistemas de
observação espacial russo ou estrangeiros devido às características
especiais da sua movimentação. A entrada destes objectos na atmosfera é
acidental e difícil de prever."
O Governo diz que não há danos nas
unidades militares existentes na região. Os prejuízos materiais terão
sido provocados sobretudo pelas ondas de choque de uma explosão, audível
em vários vídeos que captaram a ocorrência.
Testemunhas na cidade
de Cheliabinsk ouvidas pela Reuters dizem ter visto, às primeiras horas
da manhã, objectos brilhantes a caírem do céu. Ouviram estrondos,
sentiram edifícios a abanar e os alarmes de carros dispararam na mesma
altura. "Definitivamente não foi um avião [em queda]", disse um
responsável da protecção civil, ouvido pela agência Reuters, pouco
depois da ocorrência.
No Youtube há diversos vídeos filmados a
partir de carros em movimento que mostram claramente a passagem do
meteoro, como um objecto muito luminoso, a grande velocidade, e que
provoca um grande clarão, deixando um rasto de fumo à passagem. Num dos
vídeos vê-se ainda o que parece ser a desintegração do meteoro em
partículas mais pequenas.
Não há qualquer relação deste episódio com a passagem do asteróide DA14,
que se aproxima nesta sexta-feira da Terra e poderá ser visto com
binóculos. “Não há ligação com isso”, diz Rui Agostinho, director do
Observatório Astronómico de Lisboa. O mais provável é que o meteoro
russo venha da cintura de asteróides localizada entre Marte e Júpiter,
que é a origem da esmagadora maioria de corpos celestes que chegam à
Terra.
Filipe Pires, do Centro de Astrofísica da Universidade do
Porto (CAUP), concorda que este fenómeno não estará relacionado com o
asteróide DA14. “É uma coincidência”, acredita, confirmando que ainda
assim estamos perante algo que é muito raro.
Uma "estrela cadente" mas mais perto
Filipe Pires, ouvido pelo PÚBLICO de manhã, suspeitava que se tratasse de um meteoro com cerca de um metro, que causou uma onda de choque quando entrou na atmosfera e se desfez. O que se terá passado na Rússia, simplifica Filipe Pires, é o resultado do que normalmente chamamos “estrela cadente” mas maior e mais perto.
Filipe Pires, ouvido pelo PÚBLICO de manhã, suspeitava que se tratasse de um meteoro com cerca de um metro, que causou uma onda de choque quando entrou na atmosfera e se desfez. O que se terá passado na Rússia, simplifica Filipe Pires, é o resultado do que normalmente chamamos “estrela cadente” mas maior e mais perto.
Quando penetrou na parte
mais densa da atmosfera, desfez-se e provocou as várias ondas de choque
que vemos nas imagens de vídeo amador que estão a ser mostradas na
Internet.
Filipe Pires ajuda-nos a ter uma imagem aproximada do
que aconteceu: “É como o que acontece quando damos um mergulho na água,
provocamos aquelas ondas. A água, neste caso, é a atmosfera. Mas não
tocámos o fundo da piscina, que seria a Terra.”
Mais tarde, a
Academia Russa de Ciências estimou que se tratasse de um objecto bem
maior, com cerca de 10 toneladas de peso quando entrou na atmosfera. A
astrónoma Margaret Campbell-Brown, da Universidade de Western Ontario,
no Canadá, reviu em alta esta estimativa, dizendo à revista Nature que o
corpo celeste teria 15 metros de diâmetro e 40 toneladas.
Na
interpretação de Rui Agostinho, do Observatório Astronómico de Lisboa, a
explosão que se ouve claramente em diversos vídeos corresponde à
passagem do meteoro pela barreira do som, e não ao intenso clarão que se
vê nas imagens. Um meteoro, explica o investigador, entra na atmosfera a
uma velocidade hipersónica – de milhares de metros por segundo – e vai
travando até chegar ao limite da velocidade do som (340 metros por
segundo). “Neste momento, ocorre uma explosão sónica”, afirma. “É o
contrário dos aviões.”
Pelas imagens, Rui Agostinho acredita que o meteoro ter-se-á dividido em vários fragmentos. Só quando se encontram fragmentos no solo é que se fala em "meteoritos".
Um blogger russo, Ilya
Varlamov, reuniu no blogue alojado na plataforma Livejournal (a mais
popular na Rússia), um conjunto de vídeos, imagens e testemunhos
publicados online (disponível aqui,
em língua russa). Algumas das imagens testemunham a destruição
provocada pelas ondas de choque. Em alguns vídeos é bem audível o que
parece ser uma explosão seguida de vidros a partirem-se. Outro vídeo
mostra o medo de estudantes que se encontravam numa escola.
Publico.pt