Porque protetores de animais ainda comem carne?



Por: Leide Carneiro
O que não concebo é degolar um cabrito, asfixiar uma pomba, cortar a nuca de uma galinha, ou dar punhaladas em um porco para que eu coma seus restos. Não é por uma questão de química biológica o motivo de eu me ter passado para as fileiras do vegetarianismo, mas pelo imperativo moral de que a minha vida não seja mantida ás custas da vida de outros seres. (Eduardo Afonso - médico espanhol)

Muita gente vomitaria se entrasse em um matadouro, eles só existem porque as pessoas foram educadas para comer carne e não se importam em assustar e matar animais para comer seus cadáveres  sangrentas muitas vezes  contaminadas de urina, fezes ou pus. As pessoas usam  pele de animais se igualando aos homens das cavernas e acham isso o máximo. Pagam para  ver elefantes serem acorrentados, chicoteados e obrigados a fazer truques idiotas que não fariam soltos na natureza.

Não somos carnívoros nem deveríamos ser “onívoros” - palavra criada para justificar o hábito primitivo de comer carne. Podemos  compensar a ausência da carne no organismo com outros alimentos, que trazem os mesmos nutrientes as vezes em maiores quantidades, sem causar dor e sofrimento e sem agredir nosso organismo.

 Acho hipocrisia comer carne e dizer que respeita os animais,  se intitular  “protetor de animais.” Vamos ser honestos. Quem comeria seu objeto de afeto? Quem comeria seu gatinho ou cão de estimação?

Sempre me inquietou o fato de alguns protetores de animais comerem carne. Porque não  há coerência  por parte  deles comerem o que protegem.

Como seria visto  um diretor de uma ONG de proteção ás crianças que empregasse  mão de obra infantil em suas empresas? Certamente seria julgado e condenado pela sociedade. E porque os protetores de animais muitos deles intitulados defensores da vida podem comer vacas, porcos e outros bichos sem que lhes seja cobrada a mínima de  ética?

Como somos seres convenientes, resolvemos dividir  os protetores em  dois  grupos: um formado pelos moderados, aqueles que entendem que os animais devem servir ao homem, desde que sejam observadas as condições ideais de vida e morte . Para eles não há  mal algum em transformar bois em bifes, contando que estes sejam tratados de forma humanitária sendo sedados  na hora do abate -  “abate humanitário”. Sim, mas desde quando é aceito o  matar com amor, com cuidado, com carinho. Bom... Gosto muito de você, mas infelizmente vou ter que lhe matar. Não se preocupe, não vai doer. Será sedado antes da morte. É mais ou menos assim o primeiro grupo que por sinal é numeroso. É maioria.

O outro grupo é formado pelos “radicais”, os “diferentes”, os “estranhos” - defensores do fim de toda e qualquer forma de exploração. Para estes é inaceitável  que animais sejam utilizados para satisfazer as futilidades  humanas. Para eles não existe “boa morte”, existe apenas e somente a morte que é inaceitável se não for natural.

Sempre me questionei como os protetores não vegetarianos pode se  indignar com o abandono de animais, com  a forma em que eles  são tratados em circos e  rodeios, se os come?  Acho menos abuso usar um ser vivo num espetáculo do que colocá-lo na fila do matadouro. Existem aqueles defensores que se protegem  dizendo que os stress do animal nos circos e rinhas é maior. Por acaso, já observaram um boi a caminho do matadouro?

Já perceberam o medo que eles têm da morte? Já viram suas lágrimas rolando enquanto escuta o grito de dor e o odor do sangue do que está sendo abatido? Pois é, às vezes é melhor fechar olhos e ouvidos para estes gritos de socorro para não ter que tirar o bife da refeição. O que os olhos e ouvidos não veem o paladar e o estômago não sentem.

Não quero ser rotulada  de radical, nem que pensem que  não reconheço  a importância do trabalho desenvolvido pelos protetores  de animal não vegetarianos.  É um trabalho muito importante, porém  há controvérsia  entre proteger animais e ao mesmo tempo explorá-los. Quem ama cuida, protege, respeita. Pense nisso! Faça a conexão!



Leide Carneiro – Ativista, Bióloga, Educadora Ambiental.